Agora, com um pouco mais de tempo deixo um relato ligeiramente mais extenso.
Peço, de antemão, desculpas pela ausência de fotos. Haverias locais onde se poderia arranjar boas chapas, mas o objetivo desta volta eram as pernas e não a mente. Ficaram ainda assim, gravadas na memória belas paisagens e alguns momentos de introspeção. Acresce o facto de o meu estado pré-trintão com vertente marcadamente juvenil me colocar alguma inexperiência em aliar o desporto ao lazer... não sou atleta de alta competição, mas sinto que tenho que fazer o melhor que fisicamente consigo para que os números não me envergonhem demasiado. Ainda estou em fase de aprendizagem!
O dia começou bem cedo. O pequeno almoço (duas sandes com queijo e uma caneca de café) foi tomado bem cedo. Pelas 7:40 estava a começar a pedalar.
Os primeiros 5 km's foram feitos a bater o dente. Literalmente! O equipamento, de verão para prevenir o calor que a meteorologia anunciava, não era o suficiente para a sombra criada pelas serras circundantes, que atrasavam a chegadas dos primeiros raios de sol. Os manguitos foram, insuficientes.
Mas a determinação era maior. A regular pedalada, em terrenos pouco exigentes, juntamente com a subida do sol para níveis que o permitiam banhar a minha frágil figura, foram aquecendo o corpo e, nas descida Pintado-Tomar a temperatura corporal já estava no ideal.
Sendo estes terrenos virgens para mim, não aproveitei a descida como se pode, mas sim como eu podia. E se gosto de descer! Lá fui deslizando pelas estradas, ignorando os primeiros desafios que estavam por chegar.
Comecei por Tomar-Algarvias. Subida curtinha, mas com boa inclinação média. Segiu-se a Subida para Cem Soldos que é daquelas que chateiam pois é um falso plano. Continuei a subir por Porto da Lage-Casal da Fonte e cheguei ao primeiro parte pernas: o eixo Subida Charruada/Lagoa do Furadouro/Vilar dos Prazeres sentido Ourém. Foi por aqui que, enquanto eu passava com alguma facilidade pelas desafiantes subidas, animado pelas cénicas paisagens, dignas de uma publicidade da Merida (ou da B'twin no meu caso), me cruzei com um senhor a pedalar como eu. De joelhos para fora, lutando contra a pendente, decidi durante alguns metros, acompanhá-lo, e perguntar se faltava muito para a subida de Alvega. A resposta veio, simpaticamente, com uma breve explicação entre pedaladas. Perguntei se o senhor ia para o mesmo... "não, porque não sou maluco!" retorquiu.
Entre desejos de boa-viagem, segui a minha! As minhas incautas pedaladas levavam-me a um desafio como ainda não tinha enfrentado na minha fininha!
Era hora de enfrentar a subida a Fátima. Daquelas que ficam na memória tinham-me dito. Os cerca de 6 km's começam leves, com uma inclinação que varia entre os 0.5% e os 3%, como que aquecendo os músculos para o que se segue. O choque dos 4.5%, dos 6%, dos 8% e dos 10%. A subida a Fátima fazia-me rezar para que as pernas aguentassem. Estoicamente fui subindo. Pedalada a pedalada os metros foram sendo conquistados. Era hora de abordar as pendentes mais elevadas. Gerindo o esforço a transmissão ia descendo, na esperança de que o esforço nas pernas fosse sendo diminuindo. Mas parecia ser insuficiente, estava no final da cassete! Vieram os 12%, os 15% e os 17.5%. Os músculos pediam oxigénio e uma pausa, mas a vontade era muita! Trepando por ali acima, perto do momento em que os meus cleats iam provar os asfalto, vejo o final! A moral ganha nova vida, as pernas vão buscar novas energias e a subida é conquistada!
Orgulhoso, lampeiro, feliz da vida, segui viagem. Os manguitos sairam pois o calor já apertava. Por entre estradas secundárias, atravessei bonitos eucaliptais e pequenas terreolas onde a gente, descansada, no seu café central, me cumprimentava pela passagem!
Os 90 km's já pesavam nas pernas. E noutros sítios que a carneira do equipamento da MTN-Qhubeka vindo da Aliexpress já era insuficiente para proteger! O calor apertava, fazendo-me desejar apenas um pouco do fresco que apanhei no início da jornada... os dois bidons de água, chegaram ao fim.
A chegada ao fim adivinhava-se complicada! E foi! Depois de Freixianda deveria ter entrado na N356 de volta a casa, mas os olhos estavam no GPS'r e no trajeto definido. Era hora de atacar a Serra de Alvaiázere! Dura, duríssima. Os km's pesaram, e os metros foram sendo galgados dificilmente. A 5 km's do destino, que fora a partida, uma sombra demasiado convidativa parou os meus músculos... foi desligado o Strava pois a dura realidade apanhou-me! Era o limite daquele dia! Os motivos eram vários, as desculpas podiam ser muitas. Prefiro aqui simplesmente dizer que não dava mais. Foi feita a pausa e resumi caminho, dificilmente retomando o ritmo que queria. Foram 5 km's penosos, não sei se fisica, se mentalmente.
Queria mais, hei de ter mais para dar!