A última prova da época
Mediofondo Tejo e Serras (15/10)
Esta foi a última prova que previ para esta época. Preparei-me como sempre. A semana anterior foi mais puxada que o normal. Tive mais treinos em grupo e fora da minha zona de conforto. Ajudou-me muito por um lado, creio que me penalizou ligeiramente por outro. Ajudou na medida em que consegui treinar andamento em grupo (acabei por aguentar mais tempo em pelotão). Penalizou ligeiramente porque chegado o dia da prova eu não me senti tão descansado como costumo. Creio que ainda demorou muito a recuperar.
Pela primeira vez desde que ando nestas lides, fui sozinho para a prova. Acordei às 6:15 pois tinha que ir ainda levantar o dorsal e arranjar tudo antes da partida. Creio que geri bem o tempo e 10 minutos antes da partida estava na linha de partida. Mas confesso que ter alguém a apoiar ajuda. Alguém que se preocupe em fechar o carro e a quem pedir "dá-me isto", "arruma aquilo"... Mas fez-se!
A partida atrasou-se dois ou três minutos face à hora anunciada. Não é muito nem é grave. Mas confesso que é a primeira vez que me aconteceu nestes eventos.
A prova começou logo com um pequeno esticão. A reta inicial dava lugar a uma rotunda. Quase todos fizeram pela direita... meia dúzia mais afoita fez pela esquerda à procura de um bom lugar no pelotão.
O início foi controlado por um pace car. O ritmo era elevado, ia-se rolando a boa velocidade. E eu estava lá no meio. Pelo meio troquei cumprimentos com o amigo Bernalve.
Eu estava genuinamente feliz. Íamos com mais de 25 km's de prova e eu mantinha-me no pelotão. Pelo meio, já tínhamos passado por algumas localidades onde as curvas e contracurvas me obrigavam a lutar para lá ficar. Alguns elementos já iam caindo. Eu agarra-me com o que tinha para lá ficar. É para estar ali o máximo tempo possível que treino, que acordo cedo, que vou para o frio, para o calor... Cada secção ligeiramente mais técnica fazia com que o pelotão, pouco perdulário, me cuspisse para fora. Falta-me algo aqui. Fluidez? Confiança? Jeito? Não consigo saber. Mas a cada momento eu forçava-me a não descolar.
Mas ainda não foi desta. No meio de uma localidade, já depois de Alcoentre, começou a chover! Muito mesmo! Pingas grossas e em boa quantidade. Curva apertada, contracurva, descida... F0d4$$3!!! Desapareceram! Perdi-os. Ainda não ia ser hoje que os ia acompanhar até, pelo menos, a grande dificuldade do dia!
Com o céu a cair, decidi que não ia apertar demasiado porque já vinha com o desgaste da luta anterior. Ia ficar com o grupetto de quem perdeu o comboio comigo. Ia seguindo. Passei por mais dois amigos que iam em ritmo calmo. Estranhando a sua presença ali, perguntei o que tinha acontecido. Iam até à rotunda e voltar Santarém... confesso que com o desânimo de ainda não ter sido desta que me mantinha no pelotão, com a chuva a cair, os pés encharcados, os óculos ligeiramente embaciados, as pingas a escorrerem pelas costas... pensei em fazer o mesmo. Mas pensei que também respeito o meu esforço e que cada vez que acabo uma prova estou um centímetro mais perto ter a possibilidade de um dia, quem sabe, sonhar em ter um mínimo de hipótese de chegar não muito longe dos da frente. Cerrei os dentes e continuei. Apanhei um grupinho mais à frente onde estava mais um meu conhecido. Este tinha abrandado propositadamente pois da última vez que tinha andado à chuva, tinha sentido na pele os riscos que corremos.
A chuva chegou depressa, bateu forte, mas durou uns 15 minutos! Parou e eu estava mesmo no sopé da Serra de Montejunto. A chuva não facilitou a tarefa de abordagem feito num falso plano e, o piso já de si mau - especialmente para um levezinho pois é altamente irregular - era agora uma mistura de pequenos maus e terra e pedrinhas.
Chegávamos ao muro... éramos 7 ou 8... mas ali não havia grupo! Cada um dava o que podia porque ali não se passa a atacar ou a gerir... passa-se como se pode!
As secções mais inclinadas tinham terminado. A subida era uma amalgama de esforços individuais. De ciclistas ofegantes a tentar fazer o seu melhor. E eu a começar a sentir uma cãibra na perna esquerda! Agora não! Vinha a parte da subida mais ao meu jeito. Mais constante a favorecer cadência! E eu tinha que abrandar ligeiramente pois tinha que esticar o músculo na pedalada! Os do meu grupeto que subiam melhor fugiram e eu fiquei algures a meio.
Estava a tentar recuperar o ritmo pois a perna já o deixava. Desta vez, a dor veio só para me chatear, não veio para ficar.
Sentia-me melhor e ia tomando de mira os que iam num ritmo inferior. Passeio algum pessoal, mas o que aí vinha não me animou muito.
Comecei a descer. Conhecia a primeira parte do reconhecimento, mas o resto era-me estranho. Desci bem (para o meu nível) atendendo às condições do terreno. Ia baixando a quota. As curvas não eram apertadas... mas apertou o nevoeiro. Na parte final a visibilidade era bastante reduzida.
No final da descida um companheiro estava parado e juntou-se ao meu andamento quando passei. Íamos lado a lado, esperando que houvesse um grupo mais à frente ou mais atrás que nos acolhesse.
E assim aconteceu. Juntou-se o grupo de 9 elementos que fez praticamente 50 kms em conjunto. Não chegámos a apanhar mais ninguém, mas também mais ninguém nos apanhou.
A prova neste ponto tem pouca mais história. Mas eu criei a minha própria. Minha lição para levar para os próximos eventos. O grupo ia rolando a boa velocidade. Nem todos trabalhavam. Claramente havia dois elementos que tinham mais pernas e foi quem mais trabalhou. Eu juntei-me sempre que pude. Especialmente numa secção rolante, eu fui para a frente e trabalhei uns bons minutos.
Porque é isso relevante? Porque ganhei respeito do grupo. Pouco adiante veio uma subida onde algo me aconteceu... falhei uma mudança, tive que alterar o ritmo e quebrei ligeiramente... perdi contacto. Dois companheiros olharam para trás, viram-me em ligeiras dificuldades e vi-os a chamarem-me. apertei e apanhei-os logo!
Continuámos até ao último abastecimento onde eu cometi o erro de, a cerca de 40 km/h tentar agarrar a garrafa em andamento, logo antes de uma descida. Perdi o contacto imediatamente e aqui por uma boa distância. E aqui... depois da minha azelhice entrou o meu treino e vontade. Porque eles estavam a 300 ou 400 metros de mim a rolar em comboio... eu sozinho a ver como iria enfrentar os últimos 15 km's da prova. Concentrei-me. Fixei-os. Trabalhei durante uns 10 minutos a rolar para não me fugirem. Eles iam em velocidade cruzeiro e eu a tentar por a potência que conseguia! Trabalhei... pensei que eles eram o meu bilhete de manter a qualidade da minha prova... precisava de me manter ali! E consegui! Retiro daqui a maior vitória desta prova!
Já no final, acabei por pagar este esforço. O grupeto, agora reduzido a 7 unidades, apertou no final para a luta pelo lugarinho. Eu queria ter lutado... mas apertaram numa subidinha a abordar o CNEMA e puff... já não ia dar. A perseguição que fiz tinha tirado demasiado de mim. Estava curto... não merecia mais que o que tive!
Fica o registo em strava da minha prova:
https://www.strava.com/activities/745231334/
Distância - 121,3km
Tempo: 4:04:28
Acumulado - 1.626m