Venho relatar a minha mais recente volta, que foi na 5ª feira passada.
Aproveitando mais um programa de família, não deixei (sempre que é possível não perco a oportunidade) de incluir a minha amiga de duas rodas. Sabia o terreno que me aguardava, e pensei que seria bom pedalar por lá.
Esta minha voltinha foi a minha 3ª internacionalização, porque foi rodada em terras Valencianas.
O dia prometia, com um tempo esplêndido e temperaturas a condizer na casa dos 20º. No dia anterior tinha rabiscado um trajecto circular no Gmaps qu me disse que teria uns 92 kms para percorrer.
Confesso que ia um pouco apreensivo porque a minha experiência por terras espanholas nem sempre tem corrido muito bem, e sobretudo andar por estradas secundárias a coisas piora um pouco. Bem, mas com o GPS-P (P=Papel)
bem programado, e bem dobrado no bolso da jersey, lá segui eu o meu plano.
A zona onde estava é a de Sagunto. Uma cidade portuária próxima de Valência, sem grandes atrativos visuais, a não ser o excelente mar que a banha. Mas a uns escassos 5 kms da costa ergue-se uma cadeia montanhosa (não muito alta) que acompanha a linha de costa, onde se localiza o Parque Natural da Sierra d' Espadà.
O primeiro troço do meu passeio, foi plano, conforme tinha planeado. Aproveitei os 25 kms para dar mais alguma cadência às pernas, e manter a média um pouco mais elevada do que estou habituado. Foram 25 kms de ligação, atravessando laranjais, tangerinais, nesperais e outros que tais, percorrendo a N340. Muitos colegas se cruzaram comigo... neste aspecto ainda somos pequeninos em relação à utilização da bicicleta.
Finalmente o meu "Gps" obrigava-me a ter que perguntar por onde deveria ir. Confesso que tenho alguma dificuldade em entender os nuestros hermanos quando eles falam normalmente, sem grandes cuidados para que um portuguesito entenda. Mas apesar de tudo entendi que a vota que pretendia seria possível, e que na rotunda deveria tomar a via de servicio, porque na autovia não podia andar. "Despues segue las indicaciones"... Mas quais indicações???!!!
Andei ali para trás e para diante, até que finalmente pedia a dois BTTistas para me ajudarem. Eles disseram-me que com a fininha não era possível seguir os meus planos, porque os caminhos eram em terra batida!!! Bolas, mas o Gmaps nunca me enganou e a estrada que eu vi tinha a indicação CV223, sinal que seria transitável, e eles dizem que não há!!!
Resignado, mas não convencido, volto para trás e ando uns kms quando vejo ao fundo de uma interminável recta um grupo grande ciclistas, que vinha em sentido contrário. Aproveitei para me integrar no grupo e ao mesmo tempo me orientar. Pedi informações a um deles e fiquei mais animado, porque afinal o meu plano tinha sustentabilidade mas apenas com uma diferença: O Gmaps dizia-me que seriam 92 kms e ele disse-me que teria pela frente 130kms no mínimo. Tenho que admitir que não dei muita credibilidade, porque a minha experiência já serve para alguma coisa.
O que eu queria saber era onde deveria virar à esquerda e apanhar a tal CV223 que me iria levar serra acima atravessando o tal parque natural. Reparem no que ele me disse: "Esta descansado que eu oriento-te. Eu digo-te quando deves virar." Ok, feliz da vida. Andamos, andamos... pelo menos uns 7 kms, quando ele se vira para mim e diz: "Deverias ter virado na rotunda lá atrás!!!" Assim curto e grosso, sem um pedido de desculpas..... nada (cada vez gosto mais do espanhois!!). Eu fiquei tão irritado que nem um obrigado balbuciei. Simplesmente virei para trás para andar uns 5 kms e apanhar a tal rotunda.
Sinalização nem vê-la, pelo menos no primeiro km, mas finalmente lá vi a placa que me mostrou estar no caminho certo.
Ia, finalmente, serra acima. A inclinação deliciosa, acompanhada pelo excelente piso e envolvida por uma paisagem soberba fez-me esquecer os dissabores vividos minutos antes.
Os pomares de citrinos iam desaparecendo à medida que ia subindo, dando lugar a olivais e finalmente à vegetação e paisagem tipicos de um parque natural. Os aglomerados de casas foram ficando cada vez mais pequenos mas mais bonitos. Finalmente, em velocidade de cruzeiro, emaranhei-me num ambiente lindíssimo, sem carros, sem gentes... apenas eu e ela
. Consegui impor uma cadência certa, o que me satisfez. Não fosse o vento forte de frente teria subido com mais facilidade. Uma estrada de montanha lindissima, com uns recortes a não perder. Como ainda não tenho o famigerado android, aconselho-vos a arrastar o "boneco" do street viewer para verem o que eu vi.
Finalmente cheguei ao final da subida, e fiquei um pouco engalanado quando vi num placa a inscrição: Puerto de Almedijar. Senti-me como se estivesse na Vuelta
A descida foi dividida em duas partes. A primeira com curvas muito apertadas, estrada estreita, e muitos setores de piso degradado, o que me obrigou a redobrar os cuidados e ter que travar muitas vezes, coisa que não gosto muito. Finalmente entrei na 2ª parte da descida. Piso muitissimo melhor, a largura um pouco maior mas as curvas iguais. Foi uma delicia ter dado largas à velocidade e ter tido a possibilidade de fazer curvas e contra-curvas de uma forma um pouco mais descontraída.
Já me esquecia dum episódio. Ainda em plena subida apanho um colega. Olho para ele e vejo que o homem já com alguma idade. Meto conversa e vejo que é francês. Conversamos um pouco e digo-lhe que sou português. Disse-me ele: "No ano passado, em Julho, fiz de bicicleta da minha casa em França até ao Porto de bicicleta". Ah, grande homem. Quando for grande quero ter o mesmo espírito.
As dificuldades maiores tinham acabado. Agora estavam pela minha frente os 40kms restantes. Foram feitos em boa velocidade. Sentia-me muito bem, ainda com uma boa reserva de energia, e ainda por cima ajudado pelo vento que na subida tanto me atormentou. Passei este "tramo" final muito rápidamente. Já não havia nada para apreciar. A monotonia dos laranjais tinha voltado, por isso aproveitei para impor ritmo a matar saudades das velocidades altas atingidas quando andava à beira mar, há uns 3 anos atrás.
Foi uma voltinha com 110kms (+18 do que o previsto em virtude dos percalços já relatados), e com apenas 1200 ac+. Em virtude destes números a média subiu para os 25,5kms/h. Assim posso chamar a esta volta "a volta do volta atrás"
Mapa