Navegando as doiradas ondas do Alentejo interior. (Parte 1)
9 de Maio de 2015 // 411Km // 2820m AC+
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O dia que tinha tudo para ser perfeito. E foi...
Este brevet de randonneurs mondiaux foi absolutamente memorável. Não tenho aliás problemas em classifica-lo como sendo a mais completa e complexa experiência que já tive em cima de uma bicicleta.
Curiosamente, a distância total foi o feito que menos me entusiasmou neste dia. É até com relativa naturalidade com que hoje encaro o facto de ter pedalado uns absurdos quatrocentos e onze mil metros.
Para mim o memorável neste dia foi mesmo a complexidade, a riqueza e a satisfação que totalidade da experiência me proporcionou. Desde pedalar durante longas horas cortando a noite, num contexto rodoviário e geográfico completamente desconhecido para mim enquanto ciclista, até à necessidade da gestão alargada dos recursos alimentares, monetários, materiais e electrónicos. Apesar de já ter alguma experiência nas médias distâncias, nunca tinha experienciado todas estas variáveis em concorrência de uma só vez. E, sem dúvida, gostei! E também gostei de o fazer com tranquilidade, aproveitando ao máximo todo o tempo disponível, sobretudo durante o primeiro bloco nocturno e depois nas longas horas diurnas. Até para a incontornável sesta Alentejana houve tempo!
O Alentejo, aliás, apadrinhou de forma sublime esta jornada. Hoje apenas consigo partilhar convosco os registos visuais das paisagens que por lá encontrei. Mas, para mim, o aspecto mais marcante do Alentejo, aquele que me trouxe muitas e boas memórias foi, inquestionavelmente, o seu característico e inconfundível aroma. O aroma da terra, dos campos de cereais, dos animais e, no seu conjunto, da natureza em si. Esse sim, é o grande tesouro que guardo deste brevet.
Mas 411Km não se fazem só de experiências sensoriais. Fazem-se também de muito auto-controlo, de gestão racional, de aplicação de conhecimentos e, como sempre, de muita e muita aprendizagem. E se sozinhos aprendemos muito, em grupo aprendemos sempre algo mais.
Felizmente que boa companhia não faltou pelas estradas Alentejanas. Não podia, obviamente, deixar de agradecer a todos os amigos com quem partilhei quilómetros mas, em especial, ao Luís, ao Valter e ao Vitor que me aturaram praticamente desde o arranque e, sem os quais, o brevet teria sido bem mais aborrecido.
Uma palavra em especial também para todos os voluntários dos Randonneurs Portugal que tornam estes brevets possíveis e nomeadamente à Ângela por assegurar o PC final. Desculpa estar pouco conversador. Gostaria de ter ficado mais uma boa meia hora na cavaqueira mas o forcing final na Recta do Cabo e a paragem súbita lá em cima deixaram-me a descompensar. Estava mesmo a precisar de reiniciar o meu sistema com 5 minutos de repouso e um bom banho... Contudo, dado o balanço positivo da experiência a Sul, não faltarão oportunidades para por a conversa em dia.
E pronto, esta aventura já está. Outras diferentes se seguirão.
Per ardua ad astra!