Deixa então aproveitar 5 minutinhos sossegados aqui para te responder.
É sempre bom contar com as tuas antecipações. Até porque, normalmente quanto mais "perigos" indicam, mais atractivas se tornam. A parte de cavar a horta acho que vou tentar evitar, até porque os meus sapatos de ciclismo são brancos!
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O comboio surgiu naturalmente nas minhas opções ciclísticas, uma vez que já tenho batidos os principais percursos de saída aqui de Valongo e apesar de gostar, por vezes gosto de saltar essa parte à frente para que possa conhecer ainda mais percursos distantes.
Para isso o comboio é perfeito e peca apenas porque as linhas mais interessantes (Bragança, Barca D'Alva e Tua) estão encerradas e por isso o lote de oportunidades é mais reduzido, sem no entanto ser de todo desinteressante!!!
Recomendo por isso a toda a gente que tenha esse espírito para se aventurar muito para além das fronteiras normais e sobretudo que não se importe de variar a rotina. Para quem anda sozinho é mais fácil porque não há um elemento mais comodista no grupo a boicotar a opção de ir de comboio.
Por exemplo, ir a Lamego implicava quase 110 quilómetros, a somar aos 170 que já tive que fazer no regresso. A pedalar desde casa seria muito complicado...
Vamos então às questões práticas:
Podes levar a bicicleta nos comboios Regionais, Interegionais e Urbanos, sem pagar qualquer custo adicional além do próprio bilhete. Tens, no entanto de solicitar o bilhete para a bicicleta ao adquirires o teu próprio bilhete. Não te esqueças e pede ao mesmo tempo senão são mais 2 ou 3 minutos para mudar um pedido já impresso.
Podes simular os valores do bilhete em
www.cp.pt (coluna do lado direito, escondido atrás do amarelo do net ticket, tem uma badana "Horários e preços").
Quando planeio estas voltas, levo exactamente o mesmo que para uma volta grande, com a adição de um daqueles sacos de ciclista, muito fino, onde coloco tudo o que levo nos bolsos do jersey. Levo ainda peças de fruta maiores que o normal (maças grandes ou uvas) para comer no caminho, uma vez que ainda é no mínimo 1h de viagem (mais de 2h se fores para a Régua ou mais acima) e por isso convém repor o pequeno-almoço, sem usar a nossa nutrição (barrinhas e outros) pensada para a distância da volta a pedalar.
O saco depois é dobrado e praticamente nem se nota no bolso do jersey.
Normalmente o comboio para o Douro é mais directo em Ermesinde por isso apanho-o lá. Vou até Ermesinde de carro. Já vou equipado, levando uns crocs para conduzir. Depois é só calçar os sapatos de ciclismos e pedalar 100m desde casa da minha mãe até à estação.
Nos InterRegionais e Regionais a bicicleta vai no porão de carga. Depois depende do revisor a segurança dela. Na primeira ida para o Douro, esperei no porão quase até ao Marco de Canaveses e depois olhando para a carruagem praticamente vazia, pedi ao revisor se me deixava levar a bicicleta para junto de mim. Ele acedeu e fiz a viagem sem problemas em segunda classe, com a bicicleta no banco do lado.
Da segunda vez o revisor foi mais rígido e não me permitiu fazer isso. No entanto para eu ficar descansado, trancou as duas portas do porão de carga e deixou-me sentar na primeira classe, que fica logo ao lado. Volta e meia fui espreitando e não tive problemas. Mas prepara a saída com antecedência. Eu fiz isso e ainda bem, porque o revisor estava na outra ponta do comboio quando chegamos à Régua e as portas do porão continuaram fechadas. Saí normalmente pela carruagem de passageiros. Por acaso na Régua dá tempo, mas numa paragem mais breve, se não tens cuidado podes não ter tempo de sair.
Ambos os revisores foram extremamente simpáticos e conversamos um pouco sobre bicicletas uma vez que ambos pedalavam.
Nestes comboios o porão tem uns ganchos de parede para colocar a bicicleta. No entantanto leva um pedaço de cartão (eu uso uma folha dos classificados do jornal) para colocar entre o gancho de metal e o aro, senão a roda fica marcada. O comboio baloiça (e não é pouco) e portanto a bicicleta ainda faz alguma acrobacia. Se os ganchos estiverem ocupados não deixes a bicicleta encostada porque vai cair. Quando fui a primeira vez o porão ia cheio para a clássica da Senhora da Graça e a dada altura as bicicletas que iam em baixo tombaram todas numa curva algures em Penafiel!
Nos comboios urbanos a bicicleta vai na carruagem de passageiros, nas zonas destinadas a objectos volumosos e pessoas com mobilidade condicionada (cadeiras de rodas) pelo que vai ao teu lado o tempo todo.
Como as viagens são algo longas, compro sempre o Público para ler, sendo que depois o deixo num dos bancos da estação de destino para que outros o possam ler.
Depois é só estar atento à estação de saída e apreciar o agradável sentimento de as primeiras pedaladas não serem feitas naquelas ruas que tão bem conhecemos e que por isso nos são tão indiferentes.
Força nas pedaladas mistas!