O Giro até agora (1ª semana):
O bom:
Simon Yates: Já se esperavam boas coisas, tendo em conta os bons resultados na Volta à Catalunha e no Paris-Nice, mas não uma demonstração de força tão grande como a que se viu. Está em grande forma e é um sério candidato à vitória. Tem equipa para o acompanhar até Roma e é preciso não esquecer que vem da pista, pelo que pode se sair bem no ITT e aguentar a liderança. A titulo de curiosidade, é mais um asmático, tendo mesmo sido suspenso em 2016 por um controlo positivo de terbutalina.
Esteban Chaves: Depois dos azares com que se debateu, aparece em grande forma, e mereceu a vitória que Yates lhe deu. Não me parece que haja grandes questões de liderança dentro da Scott, porque Chaves não tem hipótese no ITT. Creio que vai lutar pela camisola da montanha e ajudar Yates.
Tom Dumoulin: Parece estar bem, andou bem no prólogo e tem passado sem dificuldade as montanhas. Se continuar assim e estiver em forma no ITT, pode roubar a liderança a Yates e chegar a Roma de rosa.
Thibault Pinot: Está em grande forma, como se já se tinha visto no Tour dos Alpes. Não tem nada a ver com o Pinot que se arrastou pelas estradas do Tour no ano passado. Além da boa forma física, tem feito uma corrida muito inteligente, indo buscar bonificações aqui e ali. Sem se dar por isso, vai subindo lugares na geral e se ganhar tempo suficiente nas montanhas a Yates e estiver ao seu melhor nível no ITT, pode conseguir defender-se de Dumoulin e ganhar a sua primeira grande volta, embora a qualidade da equipa não seja mesma a mesma das dos seus rivais.
Organização: Mais uma vez um Giro bastante interessante, com um percurso equilibrado e com a receita de etapas curtas com subidas no final. A ASO tem muito a aprender com esta organização. De ano para ano o Giro tem ganho espaço e visibilidade, e começa a rivalizar com o Tour até nos nomes que alinham à partida (está lá Froome). A tradição ainda tem muito peso, mas mais uns anos com Giros ao nível do que temos visto e uns Tours sem grande interesse e as audiências televisivas começam a fazer os patrocinadores mudar o foco.
O médio:
Chris Froome: Ou está a fazer um tremendo bluff, ou está mesmo com dificuldades. Por um lado, não tem perdido tempo para os rivais, chegando sempre com o grupo da frente, embora nalgumas vezes em último. Tanto pode significar uma gestão de corrida inteligente (fica com o mesmo tempo dos restantes, mas desgasta-se menos) como ser o reflexo de algumas dificuldades. As duas quedas também não são bom sinal, pode ter sido apenas azar, ou pode ser o resultado de falta de concentração (que não seria de estranhar dado o caso “salbutamol” que teima em não se resolver).
O mau:
UCI: Ao fim de vários meses continua sem fim à vista a polémica do “salbutamol” e assistimos a um Giro em que há logo à partida a possibilidade do vencedor (caso seja Froome), ver o título ser-lhe retirado (apesar das declarações do director do Giro e do presidente da UCI, nada é garantido). Também não deve ajudar à concentração de Froome e pode ajudar a explicar as quedas. É mau demais! O próprio organismo que tutela a modalidade é quem mais contribui para o descrédito desta.