Permitam-me acrescentar que não são aceites atitudes competitivas, pois não são corridas de fim de semana; quem pretende participar terá de aceitar que estar entre os primeiros a chegar e vangloriar-se disso, de ter deixado para trás uns quantos, não é o mais apropriado a estes eventos.
Pedalar 300, 400, 600 e mais de 1000 kms são desafios cada vez mais comuns, mas ser randonneur vai mais além do ato de pedalar essas distâncias.
Há muitos bons atletas que já participaram em brevets e depois nunca mais voltaram porque não fazia sentido para eles e os seus objetivos. Recomendo que participem se cumprir escrupulosamente o regulamento faz sentido.
Ninguém recebe uma taça no fim por ter concluído as distâncias e os percursos propostos, ninguém vai julgar-vos pela vossa bicicleta (há espaço para bicicletas de todas as religiões); ninguém irá julgar-vos pela roupa que trazem o corpo, mas há atitudes de bonne camaraderie que importa cultivar.
Com o tempo a superação das dificuldades, as conquistas constroem degraus mais sólidos, para atingir patamares mais elevados.
Tenho visto pessoas que são incapazes de comparecer a um brevet se não tiverem companhia. Errado! devem estar preparados para a qualquer instante, ficarem na mais absoluta solidão e aprenderem a gostar da sua própria companhia. Também se aprende a pedalar com a bicicleta carregada de material, prevenida para qualquer coisa "estranha" que normalmente acontece e mesmo assim fazer quilómetros sem fim com todo o conforto.
Os randonneurs não gostam de ver pessoal demasiado "levezinho", sem bomba, câmara de ar, impermeáveis e material básico de sobrevivência ... é sinal de aquela pessoa vai ali para correr. Existem outros eventos para quem gosta de competir.
Quando nos sentimos bem por dentro, confortáveis, bem alimentados, tranquilos, o mundo exterior pode desabar que isso não nos afeta interiormente e prosseguimos o caminho até ao próximo posto de controlo.
Espero ter ajudado com o que já aprendi nas minhas viagens.
Olá Angela, preparada para 2016?
Eu não concordo muito contigo em relação á parte competitiva dos brevets, mas percebo que é uma opiniao baseada no contexto de Portugal e nos valores digamos, incutidos e divulgados pela comunidade, mas como deves entender em outras comunidades (e bem perto daqui) eles levam as coisas relativamente diferentes.
A questão do pessoal "levezinho" como tu apelidas-te, em outras comunidades é encarada com normalidade, pessoalmente acho muito interessante teres um grupo "rápido" a fazer o percurso misturado com (sem querer ferir susceptibilidades) todos os outros no qual eu me incluo, e depois encontramo-nos no final; levo isso com muita naturalidade, valorizo a diversidade e acho que é importante porque temos a aprender uns com os outros. Por exemplo, ainda no ano passado quando cheguei a Salamanca para o 600k, fui o segundo a chegar ao local de partida, e quando la cheguei estava um individuo com uma BH em carbono, rodas alto perfil, e levezinho, muito levezinho por sinal. Lá nos cumprimentamos, ele perguntou me se era ali o ponto de partida porque era a primeira vez dele (em Salamanca), eu achei muito estranho mas quem sou para questionar os outros (ainda por cima de roda 20") mas a cara não me era estranha, e quando o José Ferreira chegou até lhe comentei isso. Passados uns minutos, reconheci, era o Julian Sanz, ciclista espanhol de largas distancias, em que entre vários recordes do mundo, já participou em pelo menos 3 edições da RAAM, a solo...
Um gajo impecável, conversou com toda a gente, rolamos em grupo durante mais de 140k (nunca tinha andado tão depressa), claro que era ele a puxar na frente com mais uns desses "levezinhos" amigos dele como se nada fosse e o resto atrás a tentar acompanhar, espectacular, portanto acho que há lugar para todos, ele estava numa categoria diferente (digamos assim) mas como é óbvio temos pontos em comum. Mas também reconheço que há exageros, uma vez fiz um brevet de 200k, em que aparece um artista com uma bicicleta de Contra-relógio, capacete e tudo, claro que se sentiu deslocado, mas foi ao ritmo dele e nós no nosso. Por isso não vamos cair no erro de esterotipar, o PBP é celebrar da diversidade, elipticas, reclináveis, clássicas, tandem, de tudo e lá pelo meio os gajos rápidos, e é essa cultura que na minha opinião e com a devida cautela devemos cultivar.
Depois convém não esquecer que temos dentro dos suspeitos do costume pessoal a fazer 600k em 25h, isto não é andar rápido? Sabes de quem é que estou a falar....entre outros.
Espero ver te em breve, desta vez em cima da bicicleta!
Deixo o link do video do Julian, acho inspirador...
[video=youtube;vLVpHtMaBBw]https://www.youtube.com/watch?v=vLVpHtMaBBw[/video]