Ao longo dos anos fui-me convencendo de que, em grande medida, o preço das coisas assume a importância que lhe queiramos dar. É óbvio que, e falando especificamente do ciclismo, é uma modalidade/hobbie com um "consumo mínimo" considerável e não suportável por muitas carteiras. Não concordo com o que alguém disse lá atrás sobre o facto de, no mínimo, termos de gastar 3000€ para praticar ciclismo. Acho que com 500€ de bicicleta e 200€ de equipamento reúnem-se condições para praticar ciclismo. Claro que depois aqui entram as questões sobre a forma como cada um encara o ciclismo e sobre o que cada pode ou está disposto a gastar com a modalidade. E isto leva a questões de mentalidade o que, por sua vez, desemboca naquilo que comecei por dizer, ou seja, muitas vezes as coisas tornam-se caras porque nós as fazemos tornarem-se caras. Aquilo que condeno e que procuro contrariar, quer no ciclismo, quer em tudo na vida, é o efeito "rebanho", ou seja, o de adquirir algo mais por uma imposição social do que propriamente por uma necessidade pessoal, sendo que neste aspecto nós, portugueses, somos pródigos. O parecer mais do que o ser! Devemos, isso sim, adaptar as nossas escolhas às nossas necessidades. O ciclismo é caro até ao ponto que nós permitamos que ele seja caro. O mesmo se aplica ao BTT. Se quisermos passar o inverno a chafurdar na lama e na água e a descurar a manutenção, é normal que se torne uma modalidade insustentável. Mas se houver o mínimo cuidado e algum bom senso na forma como praticamos BTT, os custos controlam-se mais facilmente, sem prejudicar o gozo que a modalidade nos traz. E isto aplica-se a tantas outras coisas...até ao futebol ou ao tennis como referiram lá atrás. Dou o exemplo de um colega meu que pratica corrida. Haverá, teoricamente, modalidade mais barata do que a corrida? Bastam umas sapatilhas com alguma qualidade, uns calções e uma tshirt e estamos prontos para correr, certo? No entanto, quando nos púnhamos a fazer contas ao que cada um gastava com a sua "modalidade", entre troca de sapatilhas (das boas) de 2 em 2 meses, roupa técnica do melhor, Garmin, inscrições em provas, massagens, suplementos, fisioterapia, etc... concluímos que a corrida do meu colega ficava bem mais cara do que o meu ciclismo. É tudo muito relativo.
Mas já que mencionei lá atrás a questão das mentalidades, permitam-me que saia um pouco do tópico e que volte a falar da questão dos incentivos ao uso da bicicleta no nosso país. Podemos mudar leis, podemos criar condições nos locais de trabalho, podemos melhorar as acessibilidades, mas dificilmente conseguimos mudar mentalidades! Mais do que em condições físicas, o uso da bicicleta em Portugal esbarra em questões de mentalidade, em questões culturais. Enquanto continuarmos a olhar com desdém, - do alto da nossa vida cheia de vaidades, superficialidades e egos inchados por riquezas ilusórias - para aqueles que pensam e/ou agem de forma diferente (seja pelo uso da bicicleta, seja pela roupa que vestem, seja pelo carro que conduzem, seja pela forma de estar que foge ao que, por cá, é tido como convencional) não haverá leis, medidas ou iniciativas que nos valham.