Não é apenas por ser pai de filho ciclista que bato na mesma tecla. É como cidadão, que diariamente se move a pedais e que não pode ficar indiferente à contínua onda de atropelamentos de pessoas que circulam de bicicleta na estrada. Todas as mortes me deixam triste.
Embora as regras de trânsito tenham sido (pouco) reformuladas na protecção dos utilizadores vulneráveis da estrada, é um pressuposto falso se repetir que o automobilista deve ter a supremacia na via pública porque o veículo que conduz é mais rápido. Não é o tipo de veículo que regula a ordem nas estradas. As leis de trânsito deverão ser ponderadas para controlar um determinado tipo de veículo, para criar ordem e cooperação entre os diferentes utilizadores da estrada. A maioria dos acidentes rodoviários é causada pelo desrespeito constante das regras de trânsito, negligência e desatenção dos automobilistas. Independentemente do tipo de veículo, o desrespeito individual nas estradas tem correspondência na maior probabilidade de ocorrerem acidentes, o que responsabiliza também todos os que partilham a estrada, como os peões e os ciclistas.
Com o aumento das bicicletas nas estradas, temos de intensificar a discussão, no bom sentido, de como as leis de trânsito deverão ser cumpridas. Mas a questão não é a quantidade de bicicletas a circular nas estradas. A questão essencial do problema é como educar os automobilistas. Os números assombrosos dos acidentes rodoviários, atropelamentos e das vítimas mortais resultantes são assustadores. A revisão de algumas das regras da estrada (CE de Janeiro de 2014) visou proteger os utentes mais vulneráveis. O CE deu mais direitos aos ciclistas mas veio também responsabilizar mais o utilizador da bicicleta, na sua conduta e no respeito das regras. Ao estabelecer a regulamentação do cumprimento do 1,5m de espaço nas ultrapassagens aos ciclistas, por exemplo. No entanto continua a exigir aos automobilistas que cumpram os limites de velocidade, e que estejam atentos e cuidadosos na partilha da estrada com os restantes utilizadores da via, sobre quem deveria ter afinal a prioridade na mobilidade. O meio de transporte limpo, não poluente e seguro, que se sobreponha à continua prevalência da cultura do automóvel. Precisamos de bicicletas por todas as razões e pelo valor que elas trazem. Promover e incentivar a bicicleta como modo de transporte. Planear a cidade ao transporte suave.
Como ciclista, um dos meus objectivos ao pedalar é também demonstrar que a bicicleta é um dos modos mais eficazes e alternativos aos veículos a motor. Utilizar este meio fantástico de divulgação para promover a segurança e a cooperação entre os carros e as bicicletas. Devemos ter a noção de que a cooperação é necessária, e eu acredito que é possível. A partilha, segura e eficaz da estrada é muito mais provável de acontecer quando ambos seguem as mesmas regras da estrada. Não é suposto tentarem nos convencer serem os ciclistas o foco do perigo. Ouço e leio comentários que alguns dos ciclistas têm comportamentos incumpridores das regras. O que acontece muitas vezes é que esses ciclistas estão apenas a tentar salvar o coiro. Todos somos testemunhas diárias que alguns automobilistas são impacientes, agressivos e com pouca consideração para qualquer tipo que vá à sua frente e o abrande, o aborreça! Alguns, tendenciosos contra os ciclistas, são encorajados a acreditar que as bicicletas pertencem a uma terceira categoria nas ruas. Gabam-se com um sinistro orgulho que desrespeitam deliberadamente as regras e incentivam um comportamento irresponsável, infringindo a lei. Para eles as bicicletas são intrusas e não deveriam estar ali, a partilhar a rua. Se houvesse mais respeito, ao peão, ao ciclista e ao Código de Estrada, estou convencido que não haveriam estes acidentes.
Para nossa segurança, os ciclistas devem estar mais atentos, mais responsáveis e mais exigentes. Esta pode ser a única maneira de modificar a forma como nos vêm.