Bem, vou tentar partilhar convosco um pouco da minha aventura pelas Asturias, na Vuelta 2015.
Foi, sem dúvida alguma, uma experiência única e bem dura. Os Asturianos são malucos!
Subir o Col du Tourmalet é como ir ao pão de bicicleta quando comparado com Angliru e Ermita de Alba (apenas dois exemplos). As subidas da Vuelta são muito mas muito mais duras do que as do TOUR. Já me tinham falado dessa diferença mas não imaginava que fosse tanta.
O nosso primeiro dia pelas Asturias foi passado a amaciar as pernas (lol!) pelo Angliru e redondezas. Estava um dia bastante fechado e com alguma chuva.
Saímos de Oviedo (onde estávamos a dormir) e lá fomos à procura do tão assustador Angliru. A ideia era, penso eu, não ir directo mas sim explorar um pouco das redondezas e depois atacar a fera.
Esta brincadeira acabou por começar logo a aquecer os presuntos pois a facilidade com que se encontram rampas a 20% é tal que quando finalmente apontámos ao Angliru já levávamos uns 2000m+
Agora sabemos que dias como o que estava não são aconselháveis para ir ao Angliru. É mesmo muito perigoso!
Poucas foram as fotos que tirei (tirámos). Foi um dia desconfortável e pouco convidativo a andar com o tlm na mão.
A visibilidade ficou rapidamente reduzida a uns 10 ou 15 metros de distância. A subida ao Angliru foi, por isso mesmo, super misteriosa (não dava para ver o que nos esperava a uns metros de distância) e estupidamente dura (escusado será descrever a dureza desta mítica subida). Estrada molhada, com muita "merdinha" de cavalo e com uns níveis de humidade surreais. Tantas e tantas vezes a roda derrapou! Nunca tirei o pés dos pedais mas estive próximo de cair por causa disso. Cair a subir é bem natural naquelas condições.
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Lá em cima estava um gelo incrível! A visibilidade reduzida não nos deixou contemplar as paisagens. Por isso foi tirar foto, vestir impermeável e começar a descer.
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Já fiz descidas a 100 km/h, já desci de fixed gear brakeless a Freita e outras Serras... mas nunca tive tanto medo na minha vida como tive a descer o Angliru! Estou farto de descer com chuva e sentir o poder de travagem a ficar reduzido com o piso molhado e aros molhados mas nunca me tinha acontecido travar a fundo e nada acontecer. A humidade era tal (mais a chuva) que tudo escorregava! O frio começou a falar mais alto e chegou a um ponto que não sei se tremia de frio ou de medo.
Aqui já numa fase em que foi possível tirar umas fotos. As bikes aqui já abrandavam ligeiramente (sim, nenhuma travava) e a visibilidade e chuva estavam bem mais aceitáveis.
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Parámos num café, na terriola mais perto do início da subida do Angliru para tentar aquecer. Estávamos quase todos a entrar em hipotermia.
Um senhor que lá estava quando soube que estávamos a chegar do topo do Angliru chamou-nos malucos! Realmente ele tinha razão. É estúpido e um pouco inconsciente fazer aquilo naquelas condições. As probabilidades de correr alguma coisa mal são elevadíssimas e rede de tlm é coisa que não existe por lá. Pedir ajuda só mesmo aos cavalos que por lá andam (um dos maiores sustos da minha vida foi estar a descer, cheio de medo e frio, e um Potro meter-se à estrada e um Cavalo enorme meter-se à frente. Penso que numa de proteger o Potro. Aqueles cavalos são gigantes e vi a coisa muito mal parada). Mesmo conseguindo pedir ajuda duvido muito que alguma ambulância suba aquilo num dia daqueles. Espero voltar a subir o Angliru mas nunca mais o farei num dia assim.
No caminho de regresso a Oviedo, já depois de termos aquecido um pouco o corpo no tal café, é que começámos a trocar alguns comentários. Lembro-me de a certa altura dizer algo do tipo "quando chegar a Portugal e disser aos meus amigos que o Angliru é ****** é a descer vão pensar que estou a gozar...". Sim, o Angliru é duríssimo a subir (a sua fama salta à vista durante a subida) mas naquele dia meteu realmente respeito foi a descer.
No segundo dia fomos visitar os Lagos de Covadonga. O dia estava bem melhor do que o dia anterior. A visibilidade era muito boa e fomos brindados por uma subida com paisagens lindíssimas. A subida não é fácil mas está longe de se comparar com a dureza do Angliru. É uma subida mais ao estilo daquilo que apanhei nos Pirenéus no TOUR embora tenha algumas partes a 15% e até um pouco mais.
Não, não ia a chorar mas ia a sofrer com o suor nos olhos
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As paisagens eram brutais e, por isso mesmo, as paragens aconteciam com alguma frequência. O primeiro dia tinha deixado alguma fome de fotografia...
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Chegada ao primeiro Lago de Covadonga.
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...chegada ao segundo Lago de Covadonga (já com o impermeável vestido. A velocidade com que o tempo muda por aqueles lados é brutal!)
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já na descida (vindos do segundo Lago e a passar junto ao primeiro)
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e foi a meio da descida para Covadonga que tirei a foto que mais me tocou nestes dias todos. Sem que ninguém contasse... deixei-me ficar recuado e tentei apanhar o grupo a contemplar... São momentos como este que valem por tudo!
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Não tirei mais fotos no caminho de regresso.
O terceiro dia da aventura acabou por ser a maior surpresa de todas. Não sabia nada de nada do Alto de Sotres. A Vuelta nunca lá tinha passado e eu pensava que ia ser um dia passado sem história. As minhas atenções estavam focadas no dia seguinte pois ia ser uma das etapas mais duras da Vuelta e o Angliru já tinha passado.
O dia estava lindíssimo. Os primeiros quilómetros da nossa pedalada foram normais. Com um sobe e desce ao estilo de parte pernas mas sem ser muito duro nem muito bonito. Mas depois de apontarmos ao Alto de Sotres... WOW! fomos brindados com um dos mais belos cenários que alguma vez vi para pedalar. O dia também ajudava.
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A primeira parte da subida é assim... com muito verde
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A segunda parte e final são bem duros. O fim, onde o Purito atacou, é daqueles em que temos de cerrar os dentes e empurrar o guiador para baixo para a bike não levantar.
A aldeia lá em cima era lindíssima e estava completamente cheia de ciclistas. A foto está longe de conseguir mostrar isso. Este foi um dia em que tirei mais fotos com os olhos
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Depois de termos todos subido até ao fim descemos mais ou menos 2 km até que encontrámos um lugar porreiro para "acampar" e esperar pelos PROs.
a noite de Oviedo a fazer-se pagar
eh eh!
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Não, não estava a mandar sms
rede é coisa que por lá vi muito pouco. Estava a ver se as poucas fotos que tinha tirado tinham ficado bem
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a passagem dos PROs... com muitos a ganir
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O regresso foi um pouco confuso pois eram muitas centenas de ciclistas a descer e alguns até a cair (vimos um a partir-se todo). Muitos dos PROs também a descer no meio daquela confusão toda...
O dia foi lindíssimo e a surpresa acabou por fazer com que o Alto de Sotres tivesse ficado marcado na minha memória. QUERO MESMO LÁ VOLTAR.
O último dia da nossa aventura... a duríssima etapa com chegada na Ermita de Alba.
A nossa ideia era fazer o máximo da etapa possível. A etapa era um sobe e desce com 6 subidas. Decidimos fazer as últimas 4 e esperar pelos PROs na Ermita de Alba. Depois descemos e ainda fomos fazer uma chegada ao sprint... era ali que acabava a nossa aventura.
O ponto de partida foi neste fabuloso cenário
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rolámos uns 20 km de um falso plano para depois apanharmos a estrada por onde passava a etapa. Mal entrámos na etapa fomos logo brindados com uma subida a 18% para aquecer os presuntos. Depois "descansámos" a uns 9% e PIMBA! Uma contagem de montanha a 20%
Aqui é já o fim dessa subida a 20%
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Aqui no fim duma subida de 2ª categoria
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Segundo aquilo que li muitos dos PROs manifestaram o descontentamento à organização da Vuelta no que diz respeito a chegadas ao Angliru. Muitos dizem que não faz sentido e em parte até percebo porque o dizem. A organização retirou o Angliru da Vuelta mas acabou por gozar com eles pois a etapa passava mesmo na entrada do Angliru e andou muitos km com o mesmo bem visível. E depois de umas subidas de 2ª e 1ª categoria... PIMBA! A ERMITA DE ALBA! simplesmente a subida mais dura que alguma vez fiz
Também não ajudou chegar lá depois de fazer as outras subidas. Durante a semana seguinte li declarações de muitos dos ciclistas que participaram na Vuelta e todos concordavam em rotular a Ermita de Alba como uma das mais duras que tinham feito.
No fim da penultima subida (de 1ª categoria)... uma subida incrivelmente chata de se fazer com uma pendente média de 11% (acho eu) mas com estradão largo e com muito calor. Sem pontos de descanso. Não me recordo de baixar dos 9%. Encontrámos uma bandeira Portuguesa a uns 200 metros da contagem de montanha no fim da subida. Parámos e tivemos a honra de conhecer um antigo ciclista Português. Um senhor de Ovar... um verdadeiro apaixonado por ciclismo já com 3 ou 4 voltas a Portugal nas pernas.
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Depois foi descer uns 12 quilómetros a grande velocidade e perceber que depois em apenas 6 teríamos que subir tanto ou mais do que estávamos a descer. Era logo um sinal de que a Ermita de Alba ia ser bem durinha. E confirmou-se!
É uma subida em que se descansa a 13% com umas rampolas a 27% e 30%
Não tirei fotos mas penso que vou ter algumas para partilhar convosco mais daqui a uns dias. Agora apenas tenho aqui uma que tirei já depois de termos descido uns 2 km até a um local onde esperámos pelos PROs. Quando acabei a subida, lavado em suor, encostei a bike (que quase caiu por ser tão a pique) e disse "estes Asturianos são malucos!"
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Aqui uma foto do grupo fantástico do qual fiz parte.
Ricardo Dinis (o melhor sprinter da VUELTA, sem dúvida alguma)
Rui "xuxinha" (trabalhador nato e incansável)
eu
Mário Carvalho (o nosso líder. Uma verdadeira máquina)
Renato Martins (ciclista completo. Rola bem, sobe bem, e até corre bem ao lado dos PROs)
Fernando Isaac (o nosso "menino" que esteve sempre fortíssimo em todas as etapas)
Com gente assim pedalo até ao fim do mundo
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