Bem, fico satisfeito por ter reanimado este tópico. Acho que o objectivo do mesmo não passa por termos de tomar partido por uma vertente ou por outra, até porque também considero que as mesmas são complementares, passa antes por apresentar vantagens e desvantagens de uma e de outra e, acima de tudo, apresentar a nossa visão e relação com as mesmas. Não se pretende aqui entrar por discussões parvas de ódios do pessoal da estrada em relação ao btt e vice-versa...e acreditem que há quem tenha este tipo de mentalidade, e isso sente-se, por exemplo, quando nos cruzamos com outros ciclistas. Se vamos de fininha e acenamos a um bttista ignora-nos...se vamos de btt e acenamos a alguém que passa numa fininha, somos igualmente ignorados...Não percebo esta postura, no fundo todos temos o mesmo hobbie/paixão que é andar de bicicleta.
grouk, gostei do teu contributo na medida em que faz-nos ver que cada um tem a sua motivação e estabelece uma relação muito própria com as bicicletas. Se para mim as médias, as picardias ou os tempos nada me dizem, para ti são importantes e é nelas que alimentas a tua motivação...nada contra, é salutar esta diversidade de posturas. Numa coisa concordamos, mesmo sem me preocupar muito com médias ou tempos, adoro a sensação de cansaço que uma boa volta de bike nos proporciona...acho que esta espécie de masoquismo saudável é transversal a todos os ciclistas...
Fabry, já comentámos noutros posts que temos uma visão algo semelhante sobre o ciclismo, apesar da minha experiência e conhecimento ser muito menor, nomeadamente no que diz respeito ao gosto por bikes polivalentes que não nos limitem na hora de apanhar um pavimento em mau estado, uma estrada de terra batida ou a estrada cheia de água...Mas aí aponto mais para outro tipo de bikes, que não as btt puras.
Já dei por mim a pensar muitas vezes num dos factores que já me fez afastar totalmente do btt há uns anos atrás e que, actualmente, começa a pesar novamente na decisão: o factor custo/benefício. O BTT é muito dispendioso...demasiado dispendioso, diria! Em mais que uma situação inscrevi-me em provas por 5 ou 7€ e ficava todo satisfeito por ser barato. No final da prova, depois de apanhar lama, pedras até às orelhas e sabe-se lá mais o quê, o que inicialmente seria barato transformava-se numa factura demasiado pesada no mecânico. Era pastilhas, era correntes, era pneus, era desviadores....enfim, é um desgaste imenso para o material e considero que as próprias bikes de BTT não estejam concebidas de acordo com o uso a que estão sujeitas...com a avanço tecnológico em técnicas e materiais, tínhamos obrigação de ter bikes de BTT que não nos deixasse apeados tão facilmente como eu fiquei imensas vezes. E isso leva ao ponto frustração. Em muitas provas e passeios nos quais participei, a sensação após concluir o percurso, para além de fazer contas ao prejuízo, era de que tinha andado embrulhado no meio do mato, constantemente a desmontar e de que não tinha visto nada de particularmente interessante, pois ia mais focado no esforço que o BTT exige que, a certo ponto, já nem nos deixa apreciar o resto... No final, olhava para o trajecto percorrido no mapa e chegava à conclusão que tinha andado às voltas num raio de meia dúzia de km´s, que demorei 3 horas para fazer 40 ou 50 kms e pensava que em 3 horas fazia voltas de 3 dígitos na bike de estrada, que não espatifava material e que não tinha uma tarde pela frente para andar a limpar lama e a secar material!
Não concordo quando se diz que o BTT é muito mais exigente do que a estrada em termos físicos, pelo menos no BTT amador. Grande parte do enorme sucesso que o BTT tem no nosso país passa precisamente por ser uma modalidade mais ou menos acessível a quem tenha a mínima preparação física, proporcionando momentos de convívio e comes e bebes nas provas que se multiplicam todos os fins de semana. Quando muitos experimentam fazer estrada concluem que afinal não é só pedalar. Agora se falarmos de quem pratica BTT para andar a competir nos lugares da frente, isso já é outra conversa...mas a maioria desses treinam sobretudo em estrada, precisamente pela endurance que esta dá.
Aquilo que me atrai na estrada é o chegar mais longe e mais depressa, o poder alargar o raio de acção das nossas voltas, o desafio físico e mental que requer, o seu lado "clean" e simples, na manutenção, nos custos...em tudo. Fazendo contas por alto, não tem comparação o que gasto na manutenção de uma BTT e de uma fininha ao longo de 2 ou três anos...e isso começa cada vez mais a pesar nas decisões e tomadas de posição. Bem, o discurso já vai longo...estrada ou mato, o que interessa mesmo é retirarmos gozo daquilo que estamos a fazer !