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As voltas do Indy & Cia

indy

Active Member
Apesar de não participar muito, sou um assíduo leitor das crónicas que por aqui se escrevem. Durante o Inverno dedico-me mais ao BTT mas com o aproximar do bom tempo e dos dias grandes vão-se multiplicando as voltas de estrada, só que na maioria das vezes limito-me ao registo fotográfico. Mas desta vez vou contribuir também aqui para as crónicas.

Os companheiros de pedalada foram mais ou menos os do costume: Tico, Eduardo e Óscar. A zona onde se ia desenrolar o percurso não era de todo desconhecida, após várias investidas de BTT ou de asfáltica ao longo dos anos. Mas havia motivos para fazer o percurso que me deixavam entusiasmado.

Como sempre saímos de casa (Delães, Vila Nova de Famalicão). Os primeiros kms até à Póvoa de Lanhoso, rolantes, serviram para aquecimento. Seguiu-se o primeiro ponto de interesse, a ligação a Vieira do Minho. Existem duas possibilidades mais conhecidas para fazer esta ligação: ou pela mais movimentada N103 ou pela agradável N205. Mas queria estradas diferentes e pitorescas e assim o percurso foi traçado pela encosta norte do Rio Ave, passando por Anissó. Conhecíamos algo da encosta, de incursões anteriores de BTT, mas a estrada era uma incógnita. Com o RideWithGPS a ameaçar-nos com acumulados a rondar os 5000m foi com muito cuidado que encarámos esta e todas as outras subidas do percurso. Mais tarde, no final do dia, viríamos a contabilizar afinal pouco mais de 3000m. Mas foi talvez devido a essa contenção que chegámos a casa relativamente frescos para os kms percorridos.
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Ao longo desta jornada tivemos algumas surpresas. Agradáveis, claro.
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Depois de Vieira do Minho aguardava-nos outra novidade que gerava expectativa... ou apreensão. Tratava-se da ascensão directa ao Parque da Serradela, na Serra da Cabreira. Julgo (corrijam-me se estiver enganado) que essa estrada, actualmente asfaltada, foi em tempos um dos estradões do rally de Portugal. Afinal também esta subida não revelou dificuldades exageradas. E a paisagem fantástica, como sempre.
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Atingido o topo tinha agora uma decisão que tinha deixado em aberto. Seguir para o Salto pelas aldeias ao longo da encosta (Espindo, Zebral...) ou ir lá abaixo à N103. Acabei por optar pela N103. Além de gostar da panorâmica dessa estrada, apetecia-me depois percorrer de roda fina a estrada que liga da albufeira da Venda Nova à Borralha (julgo que a mesma que o Fogueteiro percorreu há uns dias). Mas, já que íamos descer, o Óscar teve a excelente ideia de registar em vídeo:
[video=youtube;Wv9_yw_n2hM]http://www.youtube.com/watch?v=Wv9_yw_n2hM[/video]

Depois da albufeira, a saída à direita em direcção à Borralha surpreendeu os meus companheiros. Receosos de que a rampa se prolongasse mais que o desejado, começaram a lançar insultos ao guia.
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Paragens para algumas fotos sobre o vale e passagem na pobre mas muito bonita aldeia da Borralha. Optei pela estrada por Paredes e mais uma vez as rampas à saída da Borralha não ficaram isentas de comentários. Mas acho que o esforço compensou.
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No Salto não pudemos deixar de visitar a nossa velha amiga D. Maria onde retemperámos forças com algum alimento e bebida. Estávamos agora a meio caminho, altura de encetar o regresso

Apontámos a Cabeceiras mas logo no início da longa descida de 11km, virámos à direita para ascender à aldeia de Torrinheiras cuja travessia se fez através dum belo troço de "pavé".
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Aguardava-nos agora uma longa descida. O piso não era famoso, o que obrigou à passagem prévia pelo Deshaker de mais um vídeo do Óscar.
[video=youtube;mvJiyKbdOks]http://www.youtube.com/watch?v=mvJiyKbdOks[/video]

A descida durou, durou e durou. Ao chegarmos à N205 reparei que, por distracção, não tinha desenhado o percurso até Cabeceiras através desta mas sim através da EM524. Abençoado engano.
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Em Cabeceiras mais uma decisão: qual das estradas sair em direcção a Fafe? Pela N311 ou pela sua variante, a EM524-1. Esta última, com as suas rampas finais "assassinas", era um desafio que já há algum tempo eu e o Tico tínhamos curiosidade em enfrentar. E enfrentámos. E todos chegámos lá acima com mais uma no rol.

Daí até ao final não houve grande história. Várzea Cova, Moreira de Rei, Fafe e o tradicional comboio até Guimarães pela ciclovia. 180km bem passados na companhia dos amigos.

Mais fotos em: https://picasaweb.google.com/voodoo.bokor
 

duchene

Well-Known Member
Excelente volta Indy!

A zona da cabreira apesar de não ser extraordinariamente bem servida por travessias ao topo, é muito interessante de se fazer nas que existem.

Quando o Zé estava a fazer a rota por esses lados ainda o avisei das implacáveis rampas da Borralha, mas que para ele seriam feitas a descer.

Quanto ao RWG, ainda há pouco se discutiu a sua elevada margem de erro no calculo das altimetrias. Numa próxima, confirma a altimetria real com o BikeRouteToaster...

Espero ver mais crónicas tuas por aqui, aproveitando para dar crédito a uma delas, em especial à fotografia da estrada de Germil que, pela sua beleza, me atormentou largos meses até que ontem, finalmente, tive o enorme prazer e previlegio de cruzar.

Obrigado por partilhares bons pedaços de estrada deserta e fascinante!
 

Figueiredo

Active Member
Parabéns pela aventura e obrigado pela partilha das fotos e videos... durante os 17m31s de filme senti que estava realmente a pedalar convosco descida abaixo, muito bom mesmo!
 
Olá Indy! É com grande agrado que vejo aqui um relato e espero que continues a fazer-lo e com prosa á altura! Eu digo que sou teu seguidor no btt, se calhar hoje em dia dou-me a certas coisas e enfrento outras com outros olhos devido a durante já alguns anos ser seguidor da tua pagina e com isso me inspirar e por consequência aos meus colegas. Agora que também ando nas fininhas, temos de marcar uma volta por aí, tenho falado com o Oscar mas ainda não calhou um encontro. Continua a fazer, pedalar e escrever que eu sigo atrás!!
 

indy

Active Member
Este passeio serviu também como "shakedown" para algo que tínhamos agendado para ontem. Um projecto já com algum tempo, interessante para nós essencialmente por causa do desafio físico e mental de passar a barreira dos 300. Mesmo assim metemos-lhe alguma montanha e estradas interessantes no início, para não ficar muito monótono:

https://picasaweb.google.com/voodoo.bokor/P300Projecto300#

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Myrage

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Pelos vistos ganhaste juizo e desta vez fizeste a descer a partir de Germil :)
Sem duvida que agora apetece roda fina.

MY
 

indy

Active Member
Relato... talvez daqui por uns dias escreva algo lá na minha página. Mas não há muito que contar.

Quanto ao juízo, não sei. Não sou de deixar contas por acertar ;)

Pedro
 

indy

Active Member
O meu amigo ET é um ideota. Não verifiquei se a palavra existe mas, para mim, significa alguém que está sempre a "parir" ideias (para voltas de bicicleta). A algumas até dou crédito.

Eu sou o idiota. Porque vou na conversa dele e tento concretiza-las. E depois empeno (o que até nem foi o caso de hoje).

Onde as nossas mentalidades chocam é na execução das ideias. Normalmente ele faz planos para o médio e longo prazo. A sua atribulada vida social não lhe deixa grande espaço livre.

Do outro lado da barricada estou eu, apreciador da frase que em tempos um ciclista conhecido proferiu para se definir "não gosto dos entusiasmados até à última da hora que depois desistem por pormenores". O pormenor será a execução. Demasiado impaciente para esperar, prefiro poucos projectos mas que possa realizar logo no dia seguinte.

Algumas das estradas que fiz já eram para ter sido testadas na recente incursão a S. Miguel do Monte mas o tremendo empeno do Óscar acabou por deitar por terra o projecto. Assim resolvi aproveitar o bom tempo e voltei à carga a solo (o ET estava de novo "out"), decidido a fazer esses e mais uns quantos caminhos novos.

Cedo verifiquei que algo não estava bem. Mal passei a ponte de Riba d'Ave e comecei a subir senti uma sensação de fraqueza. O maldito vírus que me importunara toda a semana passada a fazer ainda das suas. Vamos andando e vamos vendo.

Atravessei Guimarães e iniciei a subida para Mesão Frio. Havia um enorme pelotão de ciclistas de BTT para ultrapassar. Logo hoje, que me sinto assim. Mas lá passei, nas calmas. Desistir não estava no meu pensamento. Sou demasiado teimoso, além disso confiava que com o avançar do dia a situação poderia melhorar. Recordava que nunca tinha sido resgatado devido a empeno e que hoje não ia ser a primeira vez, que era tudo uma questão de manter o ritmo ajustado às forças que tinha.

Ciclovia, Fafe e em Estorãos início da subida para a Lagoa. Ainda era cedo mas desta vez resolvi parar numa pastelaria para reforçar o pequeno almoço.

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Reiniciei a subida. Ia-se fazendo mas perto de Pedraído já não me sentia muito confortável em cima da bicicleta. Pior fiquei quando depois da Lagoa me apercebi que aquilo ainda subia um bocadito antes de começar a descer para o outro lado. Pudera, sempre fizera aquilo em sentido contrário e a gente nunca dá o merecido valor ao que desce. Como eu estava...

Passado o topo tinha agora o prazer de descer a maldita subida dos 10%. Até meio, porque depois havia que fazer o corte à direita para a aldeia de Aboim onde tive de enfrentar uma rampita valente a caminho da estrada que me havia de levar a Bastelo.

Estava agora em plena estrada de montanha, um risco de asfalto que corta aquele topo montanhoso onde existem também belos trilhos para a prática de BTT que já tivemos em tempos oportunidade de percorrer.

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Em Bastelo tive algumas dúvidas sobre o caminho a seguir mas afinal não havia que enganar, só havia estrada asfaltada em frente, eu é que estava com a memória confusa.

Rapidamente cheguei à N311, nos arredores de Várzea Cova, mas apenas durante alguns metros me mantive nesta via, tendo virado quase de imediato para a estrada de Passos.

Mais uma estrada sossegada, para não dizer deserta, que acompanhava a abrupta encosta do vale no fundo do qual corre a Ribeira da Várzea. Aliás, o vale é uma continuação daquele que já vínhamos a ladear desde Aboim, só que aí a ribeira chama-se da Abrunheira. E, mais adiante, haveria de transformar-se em Ribeira de Petimão.

Depois de Passos a navegação tornava-se mais complexa devido ao emaranhado de estradas e caminhos. O calor apertava e estava a consumir água (que mais parecia chá) a bom ritmo. Parei assim numa fonte, que me afiançaram oferecer água potável, bebi, comi e pedi informações a uma habitante. Fiquei a saber que a tal ponte que tinha verificado no dia anterior no GE que iria ter de atravessar se chamava Buraca da Moira. É um nome que desperta a imaginação dum gajo, principalmente a mim, que prefiro uma moura morena e bronzeada a uma celta ruiva e deslavada. Mas buracos, pontes e bicicletas nunca combinam bem e a senhora lá me foi avisando que depois aquilo subia muito.

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Ok, era verdade. Era uma rampa acentuada mas não era longa. Nem 1000 metros devia ter. Rapidamente cheguei à N206 que subia ligeiramente a caminho da Gandarela de Basto. E pela primeira vez neste dia sentia algum à vontade ao pedalar. Seria do calor?

No cruzamento da Gandarela virei à esquerda, como se fosse para Mondim, e cerca de 1km mais abaixo, à direita. O André já em tempos por aqui a relatou. Trata-se duma estrada que já há algum tempo me despertava a curiosidade e que, numa subida relativamente suave, me havia de levar ao sopé do terrível troço final do Viso.

Ainda olhei para o seu início... naaaahhh. Num outro dia, de preferência com companhia :rolleyes: Já a próxima subida à direita me deixava tentado. Tratava-se duma estrada asfaltada, presumo, num passado recente e que, segundo o GE, ia dar directo à Capela do Viso. Logo, ainda devia ser uma subida mais aterradora. O padeiro confirmou que sim, que o trajecto era mais curto (logo, mais a pique) e muito dura nalguns ganchos. Hoje não tinha condições mas o desafio está lançado. Segui para o Carvalho.

Alguns longos kms com muito calor, uma ou outra subidita, a acompanhar mais um longo vale lá em baixo.

No Carvalho, como já conhecia a outra alternativa, optei por descer para Fervença. Estava de novo a precisar de comida e bebida e sabia que lá havia um multibanco. Pensei que fosse mais longe mas afinal Fervença ficava apenas poucos kms abaixo.

Depois de abastecido continuei pela estrada com destino a Felgueiras, tendo ido desembocar no entroncamento da zona industrial, na estrada Felgueiras-Fafe. Felgueiras era já abaixo e depois seria só descer até Vizela e regressar a casa. Mas outra estrada me deixava curioso. Virei para o sentido de Fafe!

Em Regadas consultei alguém numa esplanada em busca da informação que precisava:
-Sim, por ali dá, vai parar a Armil. Mas sobe um bocado ao princípio.
-É aquela rampa que se vê daqui?-perguntei.
-Sim. Sobe até ali ao topo do monte.
Não me pareceu muito. Era realmente inclinada mas devia ter apenas uns 500m. Era evidente que o sujeito não era ciclista.

E depois veio o melhor. Uma longa e rápida descida até Armil e ao vale do Vizela. Ainda bem que o percurso é neste sentido - pensei .

Agora era só acompanhar o Vizela até à localidade homónima, através da bucólica estrada, aqui e ali interrompida por umas secções de pavê agressivo.

O calor apertava agora com força e antes de chegar a Vizela ainda tive de re-hidratar mais uma vez.

A partir daí foi até casa sem parar. Moreira, Riba d'Ave... e estava feito. Devia era ter colocado protector solar. Estive à beira do escaldão.

Este percurso deu-me um prazer especial. Não que as serras tivessem a imponência de outras que por aí há, ou que tivesse de vencer grandes dificuldades, a não ser as impostas pelo meu organismo debilitado e que se reflectiram numa média fracota; só que fiquei encantado por adicionar à colecção mais um bom conjunto de estradas secundárias e pacatas que tornam mais próximos certos lugares que antes nos pareciam tão afastados entre eles.

http://connect.garmin.com/activity/119316289
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duchene

Well-Known Member
Olha os treinos para o PIF*ANM2!

Estive por essas bandas a semana passada :) Mas subi a Penha e desci para a ciclovia, para apimentar a coisa. A zona de Várzea Cova é muito bonita e estou curioso agora com a rota por Lagoa. Tenho de ir investigar um dia destes.

Os arredores do Viso fazem sempre lembrar coisas más :D mas há lá mais para explorar do que parece à primeira vista. A estradinha municipal que seguiste também é catita e escapa ao rebuliço da 304. A partir de Felgueiras a malha de estradas aperta muito e prefiro não arriscar em aventuras. Além do atalho que me deste há uns tempos, ou venho pelo Relógio ou por Barrosas.

São zonas que sem terem o impacto espampanante das zonas nobres, ainda escondem aqui e ali pequenos oásis de prazer pedalante...
 
Bem, finalmente e no fim do verão eis que surge o Sr Pedro Indy com um belo relato..... Excelente meu caro, ainda estou para perceber como somos vizinhos e só nos cruzamos na net....

Conheço grande parte do percurso de carro, só faltou incluir uma subida ao Sr dos Perdidos ali na estradinha para Vizela....Ainda lá irei vêr se não me perco!!

Parabéns!
 

indy

Active Member
Hummmm... ou não me expliquei bem, ou vocês até perceberam e eu é que acho que não :)

Ao chegar à N207, no entroncamento da zona industrial de Friande, não virei para Felgueiras, virei para Fafe.
Uns kms à frente, já perto de Fafe, arranjei uma ligação para Armil e daí vim até Vizela sempre junto ao Rio Vizela. É uma estrada pacata e pouco conhecida (acho eu), uma ligação que por diversas vezes utilizo (e aconselho) entre Vizela e Fafe. Para apimentar tem dois troços, cada um com uns 200m, um em paralelo e o outro numa espécie de "calçada portuguesa" :)
 

duchene

Well-Known Member
Eu percebi perfeitamente. Tanto percebi que a semana passada passei exactamente no mesmo sítio! Ora espreita > Strava :D

Aliás, também era para cortar em Sobradelo para evitar ir a Fafe, e tinha isso no GPS. Mas com a emoção da descida passei a alta velocidade pelo cruzamento. Consultei o mapa (bendito Edge 800!) e vi que dava para contornar o problema. Assim fiz.

Quando digo que venho pelo relógio, é precisamente por essa estrada até Vizela e depois subindo a serra.
 
Last edited:

indy

Active Member
Transalvão: esta inspirou-me a retomar a escrita :)

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Durante as viagens na A7 nunca consegui ficar indiferente à estrada que, serpenteando, a acompanha pelas encostas do Alvão. Trata-se da N206 já há algum tempo decidira que havia de pedalar esse troço. Mas gostava de o fazer incluído num percurso que valesse a pena e com partida e chegada a casa. O trajecto mais evidente sugeria a ida até Vila pouca de Aguiar e regresso mas até há algum tempo atrás não me sentia confiante para aliar tantos kms percorridos a um acumulado de subida que se previa ser de respeito.

Mas com o treino, alguns ajustes na máquina e uma análise mais detalhada às características do percurso, concluí que me sentia finalmente capaz de enfrentar o desafio. A distâcia prevista, pouco acima dos 200km, ainda ficava aquém da jornada de 300km do ano passado mas o acumulado de subida ia ser substancialmente maior.

Apesar da festa de aniversário do filho ao final do dia, mais uma vez tive no Tico um companheiro decidido a aceitar partilhar este desafio. Finalmente o tempo chuvoso e frio tinha dado lugar ao Sol e ao calor tão do nosso agrado e assim pelas 8:30 começámos a pedalar, satisfeitos por não ter de transportar impermeável, casaco ou corta-vento.

Cientes de que racionar a energia era essencial, desta vez não ia haver picanços nem caça ao KOM. O ritmo era calmo e predominava a conversa. Mesmo assim a preguiça matinal ainda me atrofiava os movimentos e por várias vezes me ocorreu como diabo queria eu enfrentar as dificuldades lá mais para a frente se me custava assim tanto a transpor os topos iniciais. Nada de pânico, a experiência dizia-me que aquilo havia de passar.

O primeiro apontamento divertido da viagem ocorreu no centro de Fafe. Ao longe vimos algo que pareceu desprender-se dum ciclista de BTT que vinha em sentido contrário. Quando chegámos o local constatámos tratar-se da cobertura decorativa do capacete. Entretanto o ciclista já tinha desaparecido, supostamente apenas com o esferovite no toutiço, pelo que o Tico limitou-se a pendurar o pedaço de plástico num gradeamento na beira da estrada. Podia ser que o dono lá passasse na volta.

A subida à Lameira, já sobejamente conhecida, não teve história e seguiu-se a longa descida até Arco de Baúlhe, mais uma vez aproveitada para tagarelar e para estudar o relevo circundante, fazendo já planos para futuras incursões, ainda que noutras montadas.

Agora, a partir de Arco de Baúlhe, tudo ia ser novidade. E não nos desiludimos: a estrada começou a serpentar em uníssono com o Rio Tâmega à nossa direita, piso excelente, ausência de trânsito, bela paisagem e tudo isto acompanhado por aquela temperatura quente que faz os pinheiros libertar um odor característico.

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Na Ponte de Cavez, além de tirar umas fotos, não me passou despercebido o início daquela "invenção" do André chamado "Planalto da Cabreira por Ponte de Cavez". Haja disponibilidade, que ânimo não me falta...

Seguiu-se a longa, demorada mas, felizmente, não muito inclinada ascensão à Portela de Sta. Eulália, com passagem por Ribeira de Pena. Tivemos até oportunidade de observar alguém a deslizar pelo cabo do parque aventura.

Mas a subida não acabava ali, continuava agora a serpentear a auto-estrada. Finalmente estava a concretizar o tal desejo. Depois de cruzar o planalto salpicado de localidades com a palavra Alvão na toponímia descemos finalmente para Vila Pouca onde parámos para almoçar. Estavam cumpridos os primeiros 100km.

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Alimentados e hidratados rolámos então a bom ritmo pelas longas rectas da N2 até a estrada se tornar mais acidentada lá para as bandas da Samardã e começar depois a descer em direcção a Vila Real. Ia olhando para as Caravelas, lá tão em cima, e desejando que a estrada não descesse muito mais sob pena de ter de compensar todo o desnível perdido na difícil subida que se avizinhava.

Há uns anos atrás eu e o Tico fomos assistir a uma etapa da Volta que tinha uma contagem de 1ª Cat na Barragem Cimeira. Deixámos na altura o carro em Vila Real e fomos conhecer a subida, de BTT. Nesse dia a etapa passou no centro da cidade e a subida foi abordada de forma diferente nos seus kms iniciais, vinda de Sul, através dumas duras rampas em paralelo. Desta vez iniciaríamos a ascensão pelo lado de Borbela e não tinha memória da dificuldade da subida por esse lado pois só lá tinha passado uma vez de carro, há muitos anos.

Rapidamente satisfiz a curiosidade. A subida acentuou-se logo de início, através de ruas estreitas pelo meio do casario. Mas, tal como na outra versão, também aqui havia um sector em paralelo onde o gradiente disparou e, pelo menos a mim, quase me fazia saltar o almoço fora.

Chegámos então ao ponto a partir do qual já conhecíamos a subida, ainda que a memória fosse remota e, depois de passar a localidade de Relva, sabia que restava sofrer ao longo dos kms que faltavam pois a inclinação não ia ter grandes alterações até ao final.

Tentava distrair-me olhando para a paisagem. Reconheci na encosta sobranceira um trilho que tinha percorrido com o Major num dia gelado do último Inverno. Lembrei-me de quase ter sido ejectado por por cima do guiador, consequência do piso intragável, e também da fantástica perspectiva sobre a estrada onde me encontrava que se tinha lá de cima. Ainda pensei em pedir ao Tico se não queria fazer o favor de pegar na máquina e escalar 100m de encosta para me tirar uma foto mas achei melhor não. Apercebi-me nesse momento que ele se estava a atrasar, o que não era normal.

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Talvez tenha tentado refrear o ritmo para ver se ele vinha mas já se sabe que neste tipo de subida é difícil escolher, cada qual tem de subir à velocidade em que se sente mais confortável. Parei então numa fonte de água deliciosamente fresca, já perto do topo e aguardei por um Tico que lá chegou proferindo a frase "P*ta que a pariu (à subida)!".

Como não precisávamos de nada, desta vez não parámos na Cabana optando por parar mais tarde em Mondim, no final da descida. Seguíamos nas calmas, tirando algumas fotos ao longo da "estrada branca" e o Tico lá ia admitindo a aproximação do Homem da Marreta.

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Felizmente que há quem lide com o empeno como uma inevitabilidade que é preciso aceitar com resignação. Mas, por outro lado, há aqueles que rejeitam de todas as formas possíveis, ainda que menos éticas, as suas consequências. Então não é que vai um tipo calmamente a apreciar a paisagem, pára na beira da estrada (uma estrada larga, com boa visibilidade, sem trânsito, num local deserto) para tirar uma foto e quando já se encontra de máquina em punho a escolher o enquadramento, é abalroado violentamente por outro ciclista. Estão a imaginar o surreal da situação? Ali, no meio do nada, dois tipos e respectivas bicicletas a rebolar no meio da estrada. "Ah, e tal, desculpa! Não te vi parado, ia aqui a olhar para um problema no pedal...". Balelas!

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Riscados os cromados, nossos e das máquinas, havia que continuar. A longa descida (que afinal nem sempre desce) até Mondim ainda demorou. Lembrava-me de nas imagens de helicóptero de uma qualquer Volta ter visto o Cândido a sair em frente num dos ganchos e por isso ia atento. O que, mesmo assim, não impediu que quase saíssemos em frente... julgo que no mesmo gancho.

Segunda paragem para reabastecimento mais prolongado num café de Mondim gerido por um senhor simpático e brincalhão. Apercebendo-se do dói-dói no meu joelho esquerdo, resultante do incidente de há pouco, trouxe-me um pedaço de folha de cacto aberto e disse-me para esfregar a substância viscosa, que me ia fazer bem. Fiquei então a saber que aquilo era Aloe Vera, e que também tinha propriedades curativas. Lá agradeci e saí dali com a perna toda lambuzada com se uma centena de caracóis tivesse organizado ali um baile.

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Entretanto, aliado ao cansaço, o Tico tinha agora o problema da necessidade de chegar cedo a casa. Ora bem, para sair do vale de Basto havia que subir por algum lado. Pela Gandarela era muito longo, pelo lado do Viso era muito duro, por Arnóia... bem, por aí também já conhecia e minha vontade mesmo era explorar uma ligação directa de Celorico a Carvalho. Mas acabámos por optar pelo mais seguro e atacámos os suaves kms de subida para o castelo de Arnóia.

O Tico já há algum tempo que vinha a receber telefonemas de casa por causa da hora esperada de chegada e a dar indicações sobre a melhor forma de ser resgatado. Pessoalmente achava que dar ao pedal e despachar os kms que faltavam seria mais expedito que os telefonemas mas rendi-me à evidência depois de constatar a forma sofrida como realizou a subida.

O resgate acabou por efectuar-se em Fervença. Pensei então que a solo e com o cansaço acumulado estes últimos kms iam ser penosos para mim mas surpreendentemente dei por mim a rolar a boa velocidade e com as pernas a responder bem, quase numa espécie de conta-relógio, apesar dos já 200km acumulados. Tentei arranjar explicação para o facto e ocorreram-me três: a velocidade baixa da subida a Arnóia, que me permitiu descançar; ser aquela a hora a que normalmente vou pedalar durante a semana; ou porque já tinha ultrapassado aquele limite em que nos tornamos insensíveis...

Mas, apesar de tudo, vinha saturado de tantas horas em cima do selim e chegado a Vizela tinha pouca vontade de pela n-ésima vez repetir o rompe-pernas por Moreira, optando em vez disso pelas subidas maiores mas em menor número da VIM.

E assim cheguei a casa, com a alma cheia de felicidade por ter concretizado o percurso que planeara. Ontem estava saturado, hoje já estou a pensar no próximo.

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Percurso (233km/4600m) aqui.

Mais fotos em aqui.
 

indy

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Por onde Judas perdeu as botas!

Planalto da Cabreira por Ponte de Cavez. Há semanas que olhava para o registo desta subida que o André tinha percorrido o ano passado.

Vamos lá então.

Infelizmente o dente que ando a tratar resolveu chatear-me durante grande parte da noite e pela manhã acabei por ignorar o despertador. 8:00, a hora que tinha apontado para sair de casa, e continuava na cama. Por um lado não estava com disposição para me levantar, por outro pensava nos remorsos que iria ter se deixasse "queimar" a oportunidade.

Resolvi levantar-me. Então fazemos assim, pensei, vais tomar o pequeno almoço nas calmas enquanto assistes ao resumo das finais olímpicas do dia anterior e se conseguires estar despachado antes das 9:00, arrancas. Pouco passava das 9:00 e estava a encaixar as travessas nos pedais. Ao descer para Riba d'Ave arrepiei-me com o fresco da manhã, o que me serviu logo como uma boa razão para não ter saído mais cedo.

As pernas, mais uma vez, estavam presas, só se começando a soltar mais um pouco já depois de Felgueiras. Nada de pânico, isto com os kms melhora, augurei. Mesmo assim até Mondim o ritmo foi sempre contido.

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Iniciei então a ascensão à Sra da Graça. Queria ficar com o registo desta subida no Strava e já que estava ali... Mas não ia cometer o mesmo erro da última vez quando, num acesso de confiança, a ataquei à campeão logo de início e depois estive à beira de levar com o Homem da Marreta. Não, desta vez controlei-me, tentei manter sempre uma boa cadência e a subida acabou por se cumprir sem grande história.

Depois duma pausa no alto para repor sólidos e líquidos enquanto, sentado na esplanada, apreciava o vale lá em baixo, iniciei a descida. Larguei os travões, ultrapassei um carro com turistas e poucas centenas de metros abaixo quase que saía em frente na primeira curva mais apertada. Juízo, moço!

Finda a descida virei à direita. Além do prato principal, descrito no início deste texto, o troço de estrada que se seguia era também algo que já há uns tempos me despertava curiosidade. Sem grandes dificuldades, um pouco ao estilo rompe-pernas, lá fui pedalando pela paisagem bucólica, por entre campos e aldeias com emigrantes de visita. O calor no vale fazia-se sentir e acabei por fazer uma pausa para tirar umas fotos e descansar o corpo.

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Estava a chegar a Ponte de Cavez. As pernas não tinham respondido muito bem à passagem dos últimos topos, o calor apertava, eram quase duas da tarde e arriscava-me a passar as próximas duas horas a escalar dentro duma "frigideira". Se calhar era sensato apontar ao Arco e regressar a casa, deixando a Cabreira para outras núpcias... E ficava com o dia consumido apenas com uma subida à Sra da Graça? Não me agradava a ideia.

Resolvi então o seguinte: iria iniciar a subida para verificar que tipo de escalada me esperava, se começasse a sentir muitas dificuldades virava para trás. E assim fiz. Umas vezes mais suave, outras mais agreste, mas as pernas lá foram vencendo as primeiras dificuldades. Entretanto, graças ao calor que se fazia sentir, já tinha dado um bom desbaste na água que tinha reabastecido na Sra da Graça pelo que foi com alivío que parei num animado café da aldeia de Moimenta para mais uma sessão de hidratação.

Ainda estava dentro da zona de "turn around" mas depois da paragem as pernas arrancaram animadas. Nos kms seguintes a estrada também não empinou por aí além o que permitiu um ritmo aceitável que me animou. Afinal talvez os 25km não custem tanto a passar. E deitava-me mais em cima da bicicleta, abria a boca tentando abocanhar o máximo de oxigénio que podia e lá ia. O piso não era nada de especial mas para subir servia perfeitamente. Da paisagem destacava a quase ausência de presença humana para onde quer que olhasse, tirando, de longe a longe, a passagem dum carro de matrícula estrangeira (emigrantes, decerto) que me deitavam um olhar piedoso. Isto é mesmo bonito.

Cheguei então a Gondiães. Calculava que já teria percorrido uns 12km da ascenção pelo que naquela altura voltar para trás já não era opção. Ooopps! O GPS indica que estou fora da rota. QUÊ?! É para virar ali atrás?! Exclamei cá para mim, que não se via vivalma. O motivo era uma rampa com uma inclinação de respeito, à qual, tanto quanto se afigurava, se seguiam outras ziguezagueando encosta acima.

Se não tem solução, resolvido está. E toca a escalar. Depois do segundo gancho tive um "deja vu". E depois outro, e outro... Eu conheço isto! Na verdade já tinha ali passado, de BTT, há uns anos atrás, com o Tico, o ET e o Padawan. Aquela era a subida da famosa foto do Tico a levar a bicicleta do Padawan enquanto ele caminhava lá atrás. E, kms mais à frente, o abandono da mesma bicicleta e fuga à boleia no carro dos convivas dum qualquer casamento, já meio alcoolizados... Ui, o que ainda havia para subir!

Pedalando e gemendo lá fui avançando. Mais uma Cola até sabia bem mas agora queria era despachar a subida e assim passei por Samão sem parar no simpático café onde tínhamos estado no dia das histórias relatadas no parágrafo anterior. Mas mais uma vez o GPS indicou que me desviava da rota. Voltei atrás e respeitei a indicação que apontava para uma rampa muito estreita e inclinada, em paralelo irregular. Chiça, isto mais parece caminho de BTT. Lá me pus em pé e consegui vencer o desnível. Mais à frente uma habitante que regava o jardim lá me confirmou que por ali conseguiria realmente (ou eventualmente) chegar ao Salto.

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Passado um pouco estava em Uz e estava também concluída a ascensão ao Planalto. É claro que os planaltos nunca são planos e ainda me aguardava algum rompe-pernas, mesmo assim não tão mau como cheguei a recear. Em vez de ir a Moscoso, derivei para Carvalho e passado um pouco chegava com grande alegria ao piso imaculado da R311. Aí estava o Salto e o nosso conhecido Borda d'Água. Sentei-me na esplanada e tentei ligar para alguém. Eram muitas horas a solo e apetecia-me falar. Lá me atendeu o Tico e estivemos uns minutos na treta enquanto bebia mais uma cola misturada com água e comia qualquer coisa.

Ora bem, estava quase com 150km nas pernas, muito acumulado de subida e ainda muito longe de casa... Já não havia espaço para mais "brincadeiras", era apanhar a N103 e pedalar como se não houvesse amanhã... ou pelo menos como as pernas aguentassem.

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Mas as pernas responderam surpreendentemente bem e os 80km passaram relativamente rápido, efectuando assim esta derradeira tirada sem mais paragens até casa.

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E pronto, mais um dia que chega ao fim comigo a não querer ver mais bicicletas à minha frente. Pelo menos até amanhã...
 
Inveja e respeito meu amigo....

Boa volta e fotos à altura!

Tens de meter uns autocolantes no cavaco negro senão inda se confunde com uma senhora da vida que está em Brito :D
 
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