Domingo, foi dia de uma volta toda ela atípica. Últimamente tenho reforçado a ideia que nós nunca sabemos tudo e que até morrer sempre vemos coisas novas.
Não vou entrar em valores dos acumulados, nas médias em mapas do Gmaps, porque essas "quequices" foram as que menos interessaram, naquele passeio que eu apelidei: "A Rota das tascas em sapatilhas". Foi uma volta com um sabor agridoce, como irão ver mais para a frente.
Quando vivia numa zona onde cicloturistas eram aos magotes, eu queria andar sempre sózinho ou então muito bem acompanhado. Dava inclusivamente para escolher a companhia. Depois que vim para aqui vi que a realidade é bem diferente e por isso agora queria ter mais companhia mas não tenho. É a vida... nunca estamos bem.
Rota bem traçada, e a cábula com o nome das localidades e nº das Nacionais pronta, lanço-me à descoberta de novas estradas por estes lados. Era uma volta que tinha cerca de 90kms (tinha compromissos para o almoço), a qual passava pela barragem da Bouçã e do Cabril.
Saí de casa pelas 7,30 e ia eu já na estrada para a barragem da Bouça, quando avisto ao longe dois mamíferos em cima de duas bicicletas. Ainda pensei que fossem para o BTT, mas mal pude ver que eram fininhas, entusiasmado com a prespectiva de ter companhia, comecei a acenar pedindo-lhes que parassem. Eram dois colegas com aspecto muito, muito humilde. Perguntei-lhes qual era a volta deles, e mais uma série de perguntas e lá me decidi acompanhá-los. Mas logo vi que aquilo ia ser............. diferente. Eles iam cheios de power, porque a seguir tinhamos logo uma subida e eles mantiveram os mesmos andamentos da descida: 50-12!!! Mais....... ambos de sapatilhas normalíssimas.
Comecei a pensar, que deveria dar meia volta e seguir o meu plano mas por educação mantive-me com eles. Logo a suir diz-me um deles: "Temos encontro marcado naquele café, com uns colegas que logo estarão aí." Eram 7,45! Eles lá entraram para a sua cola, café e cervejinha! Depois arrancamos e lentamente viemos até ao centro da vila, para fazer tempo, e mais uma paragem numa pastelaria. Fiquei cá fora, por isso nem sei o que estava no menú. Arrancamos novamente, para o ponto de encontro, no 1º café. Entretanto eram cerca de 8,00, quando soube que afinal o encontro estava marcada para (adivinhem lá!!!)..... para as 9,00.
Quase me saltou a tampa, mas mais uma vez me contive e entrei na brincadeira. Chegados novamente ao 1º café, nova e prolongada espera pelos que ainda estavam a caminho. Mais um café (eles) uma cola e uma cervejinha!!!
Entretanto lá começaram a chegar, um a um, o demais colegas que à medida que iam chegando, nem me comprimentavam. Eu era um estranho no grupo e nem por ser "estrangeiro" me trataram com cortesia. Conversas puxa conversa e também puxa mais um café, e uma cervejinha....... ahhhhhhhhhh já me esquecia, uma cigarrada valente e bem puxada. Todos de sapatilhas, só o tótó (eu) é que ia a rigor.
Acerto aqui, graçola ali, mas nem uma palavra para o intruso, lá se decidiram arrancar. O relógio marcava as 9,15.
Ladeira acima, quando qual não é o meu espanto, olho para trás e vejo que o pelotão está parado, após 400 metros de pedaladas. Pensei eu: "será para beberem mais uma cerveja?" Afinal não era... era o conta kms de um deles que não conseguia fazer o reset. Já estava a ficar cá com uma cabeça, por isso decidi ir circular a rotunda enquanto o problema não era resolvido. Acho que dei mais de 30 voltas à rotuna, porque já estava a ficar ourado!!!
Bem, finalmente lá fomos nós em velocidade de cruzeiro em direção a Ferreira do Zêzere, sem antes ter havido uma enorme dicussão para onde ir. Só passados uns 15kms de arrancarmos é que um deles se dignou dirigir-me algumas palavras!!!
Finalmente mais uma subida não muito dura mas longa. Um deles estava a estrear uma bicicleta nova (GT mas bastante básica) e por isso ia com a pica toda, numa de exibicionismo. Para quem já me conhece eu sou um tipo que nem por isso ando assim muito, e tento ser o mais comedido possível, mas na verdade eu ia bastante frustrado com tudo aquilo, e sentia que alguem tinha que "pagar as favas". Então pensei que deveria mostrar ao espertinho como se anda, sim porque em cicloturismo os castigos são dados desta forma, e por isso pensei: "Depois daquela curva o terreno inclina bastante, ele já lá vai à frente, e eu vou recolar-me a ele e obrigá-lo a puxar o resto da serra!" E assim foi!! O desgraçado só olhava para trás para ver se eu me mantinha colado e para não dar parte de fraco arfava com um touro. Eu atrás até ouvia a respiração dele!!!
Resultado: Até práticamente ao final não houve menino.
Bem, lá chegámos a Ferreira do Zêzere, e mais uma paragem num café. Tinhamos feito 25kms!! Colas, cervejas, café, panikes, sandes, nada faltava naquela mesa, e finalmente a cigarrada. Novamente na estrada, passamos pelo centro da Vila e felizmente que a maioria não aceitou senão seria nova paragem noutro café, 5kms após o anterior.
O regresso foi integralmente feito pela mesma estrada da ida (é mesmo para mim!!!!
). e bem antes da última dificuldade do dia, nova paragem noutro café. Em todos estas paragens eu só entrei uma vez, por isso estava a ficar passado, e dei a perceber: "Epá, vcs desculpem lá mas isto é um absurdo!!!! Já viram quantas vezes paramos em menos de 50kms???? è certo que vcs estão em ritmo de passeio, mas acho que é um exagero!!!" O certo é que a paragem foi muito curta e até ao final, faltavam 10 kms, não houve mais paragens...
Um pormenor interessante e caricato. Um deles levava no avanço, onde habitualmente se coloca o GPS ou o conta-kms, um telemóvel bastante antigo, amarrado com uma fita berrando a musica da Sakira, Beyoncé sei lá mais quem. Mas o mais caricato é que nem sempre o rádio apanhava a emissora desejada, e então, vai daí resolver o problema. Uma ponta de fio de cobre metida no orifício do carregador, e assunto resolvido. Parecia a Rádio Condestável de Cernache do Bonjardim.
Uma voltinha e uns companheiros, só para relembrar, e registar no meu livro de memória e no curriculum, mas para não mais acompanhar. Malta fixe, por fim demonstraram isso, mas com uma cultura cicloturística totalmente ao contrária à minha, onde nem em sonhos existem pontos de acordo. Para isso prefiro não andar, por isso como quero continuar a andar vou ter que o fazer sózinho, pelo menos para já.
Só mais uma nota de interesse. À tardinha eu tive que saír de carro e passei junto duma esplanada e quem é que lá estava? Sim, era ele mesmo... o homem da GT nova ainda com a mesma roupa da manhã com uma cervejinha na mão!!