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O meu lado B

Skyforger

Active Member
Amigo Zé, confesso que lembrei-me várias vezes de ti. Primeiro tentei ver se te encontrava em Castanheira de Pêra, na linha de partida. E depois, ao longo do percurso, fui andando atento à malta com que nos cruzávamos que, diga-se em abono da verdade, foi nula, à excepção dos participantes no passeio.

Não te avisei com antecedência que ia para esses lados porque foi tudo combinado em cima do joelho. Basicamente, lançaram-me o convite de véspera e nem tive grande tempo para pensar. Foi arrumar a trouxa e zarpar.

Como já suspeitava, tens um excelente quintal...e acredito que eu só tenha conhecido uma ínfima parte. Aquelas estradas que se vislumbram ao longe a serpentear as encostas sobranceiras ao Zêzere deixaram-me a salivar.

Concordamos quanto ao facto deste ser um passeio de cicloturismo diferente do habitual tudo ao "molhe". Dada a dureza do percurso e a grande variedade de pessoal que lá aparece (desde os mais experientes e rodados aos que pegam na bicicleta uma vez por ano), ainda não estamos a sair de Castanheira de Pêra e já o pelotão está todo fragmentado. Eram cerca de 100 participantes, mas acredita que fiz grande parte do percurso sozinho, percorrendo quilómetros a fio sem me cruzar com vivalma, principalmente na subida que antecede a descida para a Pampilhosa. Estar nessa subida completamente sozinho, envolto num denso nevoeiro, a levar com uma copiosa chuvada em cima e com um massacrante vento de frente roçou o épico :)

Essa tal subida é, de facto enganosa. Quando parece estar a acabar após a próxima curva, eis que volta a empinar e dura, dura e dura...Adorei fazê-la. Fiquei também com vontade de fazer o inverso, ou seja, subir vindo da Pampilhosa da Serra. Ao fazê-la no sentido descendente, deu para perceber que é mais curta (cerca de 5 kms), mas com pendentes de maior respeito.

Quando voltar para esses lados (que espero que seja em breve) requisito os teus serviços como guia...;)
 

Skyforger

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07-12-2014: Ás voltas com a nostalgia

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Dois ferros...

Confesso que sou uma pessoa nostálgica. Não no sentido de viver agarrado ao passado e reticente em relação ao futuro, mas sim porque dá-me um certo conforto espiritual voltar a locais (físicos ou imateriais) que de alguma forma me marcaram e ficaram gravados no meu percurso de vida. Aproveitando um fim de semana passado na terra onde nasci e cresci, aproveitei para levar a bicicleta e fazer-me à estrada sem grandes planos traçados.

O frio intenso dos últimos dias e o denso nevoeiro que se forma ao longo do vale Tejo no troço que atravessa aquela região, fez com que a ida para estrada fosse retardada até que esse mesmo nevoeiro se dissipasse e o sol pudesse finalmente brilhar e elevar minimamente as temperaturas. Assim, só por volta das 10h arranquei sem destino traçado. Basicamente iria onde as pernas, o frio, as horas e a vontade me levassem. Os primeiros quilómetros deram-me logo a entender que a coisa não estava muito agradável para rolar junto a campos ainda cheios de geada e, muito menos, descer, pelo que a hipótese de subir configurou-se como a melhor opção.

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Esta região não é propriamente dotada de subidas marcantes, embora uma ou outra rampa escolhida a dedo já dê bem para aquecer. Uma delas é a que liga a N118, junto ao Tejo, ao Campo Militar de Santa Margarida. Como precisava desesperadamente de aquecer, foi mesmo esse o destino eleito, dando aí o mote para o tal sentido nostálgico desta volta. E nostálgico porquê? Porque tenho uma relação com este importante Campo Militar. Primeiro enquanto parte da minha infância, pois desde cedo me habituei a conviver com a tropa e tive (e continuo a ter) vários colegas filhos de militares que iam estudar para a mesma escola que eu. Anos mais tarde, quis o destino que o serviço militar fizesse parte do meu percurso e posso afirmar com todo o orgulho que por lá passei sete anos que jamais esquecerei e que me marcaram para sempre como profissional e como pessoa. Nunca estive colocado no Campo Militar de Santa Margarida, mas passei lá alguns dos momentos mais memoráveis desse meu percurso militar, principalmente no que concerne a dificuldades e à dureza inerentes à função. O Campo Militar de Santa Margarida era sinónimo de exercício militar e exercício militar era sinónimo de vários dias privado de quase tudo a que estamos habituados e que damos por garantido. Muitas são as histórias que ficaram para recordar e contar.

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Quartel (ou uma espécie de) da Pucariça

Para quem conhece o Campo Militar de Santa Margarida, a sua imagem identitária é uma longa recta, ladeada por várias unidades militares e respectivos serviços de apoio e tendo no seu o largo de São Jorge e a capela de Santa Margarida. Aproveitei para rever alguns locais e visitar outros nos quais nunca tinha estado. Soube bem.

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Capela de Santa Margarida

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Ora, como estava com o modo de visita a locais onde há muito não ia activado, divaguei calmamente pelo emaranhado de aldeias que se espraiam na encosta entre o Campo Militar e a vila de Constância, a belíssima vila poema que contorno com alguma frequência, mas nas entranhas da qual já não entrava há algum tempo. Uma breve visita ao Camões, poeta cuja história está intimamente ligada com esta vila e com o Tejo, alguns devaneios pelas ruelas da vila e rumo a Abrantes e daí pelas aldeias de São Miguel do Rio Torto, já na margem sul do Tejo, e Bicas, chegando a casa com a alma e o corpo aquecidos pelo sol e pela volta de autêntico cicloturismo.

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duchene

Well-Known Member
Ora aqui está uma novidade no fórum: um, ou melhor... dois verdadeiros tanques! (Colnago não incluída claro!)

Revejo-me totalmente na tua primeira frase. Não há nada como uma volta com sentido para aquecer a alma... e por arrasto o corpo.

Obrigado por partilhares um bocadinho das tuas memórias!
 

Bruso

Well-Known Member
É sempre bom ler os relatos da Colnago :D

Excelentes fotos e excelente relato :D É bom conhecer estas pequenas terras. Se não fosse por estes relatos são zonas que não fazia a minima ideia que existiam. É o que tem de bom o ciclismo :D
 

Skyforger

Active Member
Carlos, obrigado pelo comentário!

André, na verdade são duas fotos do mesmo tanque (ou carro de combate, para ser mais correcto) :) Achei piada ao contraste entre a Colnago e aquele monstro. De um lado cerca de 2 kg de aço, do outro várias toneladas do mesmo material (com as devidas diferenças ...) :) Esta foi das tais voltas em que nada liguei aos números, a não ser aos do relógio pois a família aguardava-me para o almoço.

Bruso, há tanto, mas tanto para conhecer e para explorar, sendo a bicicleta um meio privilegiado para o fazer. Haja vontade e disponibilidade. Como diz o André, somos uns sortudos!
 

duchene

Well-Known Member
Ia jurar que o da primeira foto tinha muito menos ferrugem, daí ter dito que eram dois. Pura ilusão então!

Já não há mancebos e latas de tinta verde para dar um ar de graça àquilo? :D
 

Skyforger

Active Member
Ia jurar que o da primeira foto tinha muito menos ferrugem, daí ter dito que eram dois. Pura ilusão então!

Já não há mancebos e latas de tinta verde para dar um ar de graça àquilo? :D


É verdade, pura ilusão. Tudo uma questão de incidência da luz solar e da posição em que a fotografia foi tirada.

E também tens razão em relação ao estado de degradação a que se deixa chegar as coisas. E olha que aquele até está relativamente bem conservado, pois está ali para exposição. Percorrer aquele Campo Militar assemelha-se, em muitos pontos, a um passeio por uma qualquer cidade num cenário pós-apocalíptico. Ao Domingo então é mesmo muito estranho. Não se vê alma viva, à excepção de um ou outro militar à porta de armas de cada unidade, os edifícios e as infra-estruturas apresentam um lado tão austero quanto degradado, a suplicar por algum cuidado, e parques de viaturas (camiões, jipes, viaturas blindadas de transporte de tropas, carros de combate e afins) são vários e enormes, assemelhando-se a verdadeiros cemitérios de sucata que está ali à espera que a ferrugem faça o seu trabalho.

Não deixa de ser deprimente ver aquele cenário desolador. Estamos a falar de um campo militar com espaço e capacidade para albergar grande parte do nosso Exército que, num país tão pequeno como o nosso, faria todo o sentido que estivesse concentrado em Santa Margarida, numa posição central e estratégica do território. Ao invés disso, resolvemos disseminar quartéis por todo o país que vão mantendo as portas abertas e agonizando até uma morte anunciada de forma a justificar tanto, mas tanto erro e coisa sem sentido que se passa nas nossas Forças Armadas. Enfim, mais um reflexo do país em que vivemos, mas que acaba por passar ao lado do conhecimento geral. Ao longo dos anos que passei no Exército e das várias unidades pelas quais passei, vi e experienciei coisas verdadeiramente surreais ao nível da gestão (ou falta dela) de recursos e dos malabarismos que se fazem para manter as coisas presas por arames, tudo porque custa admitir que os tempos mudaram, que a guerra colonial terminou, que o esforço de guerra tem de ser virado para outras frentes e contextos, que o serviço militar já não é obrigatório e que os recursos humanos escasseiam, que tudo mudou, menos as mentalidades...Enfim, isto dava conversa sem fim... :rolleyes:
 

Paulo V.

New Member
Para quem andou aí na tropa em Santa Guida, como foi o meu caso, obrigado pelas recordações, que no meu caso são excelentes.
A rampa que falas que sobe para o quartel, conheço-a muito bem :D até ao final onde está a Capela.
Se a memoria não me atraiçoa, penso que a quinta foto onde está o tanque de guerra fica muito perto do Regimento de Cavalaria.
Muito obrigado por me teres trazido gratas recordações desses locais.
 

Skyforger

Active Member
Paulo, é engraçado como, depois de termos passado por lá, e apesar de tudo o que tem de negativo, é quase unânime reconhecer a importância que o serviço militar desempenhou nas nossas vidas e as marcas e recordações que deixa. Quando estava lá, a dada altura já ansiava vir cá para fora. Uma vez cá fora, desejei voltar lá para dentro... :)

Tens razão, o carro de combate da foto está junto ao Quartel de Cavalaria, no topo da avenida, sendo essa a última unidade que encontramos, do lado esquerdo, antes de chegar à capela.
 

Morg

Well-Known Member
Boas imagens!

A foto da Capela parece uma imagem dos sites internacionais da especialidade.

Infelizmente não conheço a zona, ainda.........
 

Paulo V.

New Member
Paulo, é engraçado como, depois de termos passado por lá, e apesar de tudo o que tem de negativo, é quase unânime reconhecer a importância que o serviço militar desempenhou nas nossas vidas e as marcas e recordações que deixa. Quando estava lá, a dada altura já ansiava vir cá para fora. Uma vez cá fora, desejei voltar lá para dentro... :)

Tens razão, o carro de combate da foto está junto ao Quartel de Cavalaria, no topo da avenida, sendo essa a última unidade que encontramos, do lado esquerdo, antes de chegar à capela.

Felizmente tenho excelentes recordações de lá, ao contrario de muitos e da esmagadora maioria do pessoal que lá ia parar na altura eu tive uma vida totalmente santa durante o tempo que lá estive.
Isso também se passou um pouco comigo, estava a acabar e eu estava desejoso por vir embora, mas depois desejei voltar para lá.
Fiz lá alguns amigos e conheci gente muito fixe.
Ainda bem que acertei no local da foto, eu bem me parecia que era no local que tinha dito :)
 

Armando

New Member
Ai a "Tropa"! São sempre grandes as recordações desse tempo. Mas não, não andei nesse quartel.

Grande relato, grandes fotos, grande volta e grande amigo!... Quando as temperaturas começarem a ficar mais convidativas, temos que combinar umas pedaladas.
 

Skyforger

Active Member
Morg, obrigado pelo comentário. Um dia que estejas por Castelo Branco, alarga o raio de acção para os lados de Abrantes...não é assim tão longe. Terei todo o gosto em apresentar-te alguns destes recantos ;)


Paulo, enquanto lá estive sempre desvalorizei a velha questão do "lá fora tens colegas, cá dentro tens camaradas. Não vais encontrar espírito como este em nenhum outro local!". De volta ao mundo civil e ao mundo do trabalho do lado de cá, dou total razão a esta expressão.


Pedro, muito obrigado pelo comentário. O relato foi uma coisa muito à pressa e sem grandes pormenores ou preocupações descritivas. Mas é bom saber que gostaste ;)

Armando, já tivemos oportunidade de falar sobre os tempos de tropa e, embora em épocas distintas, servimos na mesma "casa", em Leiria. Como disse, o relato foi uma coisa muito à pressa e a volta muito parca em números, embora plena de significado :) Não são as temperaturas que me impedem de voltar a pedalar contigo e com a tua trupe. O problema é mesmo a cavalagem toda que a locomotiva da Marinha Grande comporta, deixando-me com a corda na garganta o tempo todo... :) Agora a sério, das poucas vezes que andei convosco fi-lo com enorme prazer e bem sei que não deixam ninguém para trás. Não me junto mais vezes ao vosso pelotão primeiro por uma questão logística...os Sábados não são o melhor dia para mim e a Marinha Grande ainda fica a 35 kms. Depois, e admito, nisto das bicicletas sou um bicho um bocado solitário e gosto de andar ao meu ritmo, meter-me por onde bem me apetece, parar quando acho que devo parar, tirar umas fotos, improvisar, etc... Claro que também gosto de pedalar em grupo e conviver com malta impecável como é o teu caso e o do restante grupo, mas sinto necessidade de balancear isso com voltas a solo. Mas vou andando atento aos vossos planos e sempre que a vossa rota incidir para norte, tentarei estar disponível para apanhar o comboio. A visita a Tentúgal não está esquecida...:)
 

Skyforger

Active Member
08-03-2015: A volta do sol!

O sol está de volta, o melhor período do ano para andar de bicicleta e descobrir novas estradas e paisagens está a começar e, após uma semana a roer-me enquanto olhava pela janela do gabinete para os dias soalheiros lá fora, hoje foi dia de desforra.

Apeteceu-me rolar, coisa rara em mim que, apesar de não ser um rapazinho propriamente leve e pequeno, gosto mais de andar no carrocel das serras, montes e vales. E quando se trata de rolar não há muito que enganar, é seguir para oeste e percorrer os muitos kms de planura que se estendem entre a Figueira da Foz e a Nazaré.

Sem um percurso previamente traçado, como também é do meu apanágio, fui pedalando ao sabor do vento...literalmente. Rumei a sul, com a ligeira brisa a dar uma ajuda e a tornar a pedalada muito fluída e descontraída. Para trás ficou a Guia, Monte Real e, quase sem dar por isso, estava na Marinha Grande. O corpo e a mente rejubilavam e estendi a volta até São Pedro de Moel, atravessando uma das mais belas estradas da região.

E se até aqui o rumo apontava a sul, chegava a hora de inverter o sentido e seguir para norte. A leve brisa que até ali me ajudava tornar-se-ia num vento moderado e massacrante vindo de norte, sendo que levei com ele até casa. As longas e penosas rectas entre São Pedro de Moel e Vieira de Leiria, junto ao Atlântico e atravessando o Pinhal de Leiria lembraram-me o porquê de não gostar de rolar. Chegar à Praia da Vieira foi um alívio, mas as pernas já acusavam o desgaste da luta a solo contra o vento e a monotonia das rectas. Hora de flectir ligeiramente para o interior e rapidamente cheguei à Lagoa da Ervedeira.

Normalmente, quando aí chego, já cheira a casa, sendo que os 10 km que restavam completar fazem-se normalmente com alguma rapidez e facilidade. Mas foi precisamente nesse ponto que o meu corpo fez questão de me lembrar que a falta de regularidade nas pedaladas faz as suas mossas e fiquei, literalmente, vazio. Nunca a viagem entre a Ervedeira e a minha casa foi tão penosa e demorada, mas lá cheguei....3h20 depois, esgotado mas de espírito em alta e alma rejuvenescida! Somos uns privilegiados...!

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harlem

Member
É este tipo de relatos que me faz crescer a vontade de descobrir, a vontade de comprar uma companheira fininha e ser eu um dia a dar-vos o prazer em ler que muitos de vocês me dão...

P.S.: a terceira foto, pra mim, está de uma qualidade e enquadramento brutais!
 

Armando

New Member
Ricardito, isto de passar no meu quintal sem pedir autorização dá direito a multa!

Sem duvida a estrada entre a Marinha Grande e S. Pedro de Moel, denominada "canto do ribeiro", é algo esplendoroso nesta altura do ano, com os raios de sol a furarem por entre as arvores.

Ainda bem que gostaste desta zona.
 
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