Hoje vivi um grande dia... Estive a seguir atentamente uma das minhas paixões mais antigas (Automobilismo) e terei visto cerca de 20 das 24 Horas de Le Mans na tv. Valeu a pena... vale sempre, mas este ano um pouco mais, porque o grande Pedro Lamy, matou finalmente um borrego de muitos anos, e na sua classe ganhou a prova. Sim... O nosso hino nacional tocou pela primeira vez em Le Mans, ao fim de 80 e tal edições da prova. O Rui, fez o que fez numa prova que ontem, eu vi mesmo muito mal parada para os interesses dele... E fez-se mais uma vez história... Ah... E parece que houve um grupo de rapazolas também que que cumpriu o consumo mínimo obrigatório, para a garganta que teima em apresentar...
Acerca do Rui Costa, que em Dezembro passado tive o privilégio de conhecer pessoalmente, e com quem simpatizei logo de início, que posso eu dizer??? É já um valor seguro do nosso ciclismo, do nosso desporto, e sobretudo, daquilo que todos os portugueses deviam ser: Honestos, aplicados, independentes, e com o seu sucesso assente no mérito demonstrado, no serviço feito, e sobretudo, escolhendo dar a outra face quando a vida lhes prega uma rasteira, erguendo-se e voltando a ir à luta, pelos seus próprios meios, e sem dar murros em pontas de facas... Com objectividade, inteligência e com os pés bem assentes na terra.
Mas o que eu saliento mesmo é uma coisa muito rara de se ver não só no ciclismo, como no desporto de alta competição, grosso modo, e na vida em geral. Sou de facto obrigado a tirar o meu chapéu ao Alejandro Valverde, e aqui me penitenciar, por ainda ontem ter por cá escrito que duvidava que ele trabalhasse hoje para o Rui. E como trabalhou o homem!!! Honestamente, não imagino Evans, Schleck (qualquer um dos dois), Wiggins, nem mesmo Contador a fazerem um trabalho tão humilde como aquele a que Valverde (Que já foi número um Mundial, recorde-se) fez para ajudar um companheiro de equipa, e no fundo, a equipa em si.
Ainda mais assinalável, o que vamos assistindo na Movistar. Certo... A equipa no geral, não é tão forte como outras. Ainda na penúltima subida de hoje, só tinha com o Rui, o Valverde, e um outro que nem cheguei a conseguir identificar. Mas de resto, vê-se ali o que não se vê em mais equipa nenhuma. Espírito de entre-ajuda. Faz hoje por mim, que amanhã eu ou outro, ou todos nós faremos por ti.
No fundo, é a mais elementar justiça posta em práctica. A Movistar pegou na equipa porque sabia que daí a uns meses teria Valverde nas suas fileiras. A equipa pegou no Rui assim que ele se livrou do pesadelo porque passou. O Rui retribuiu ganhando provas (Tal como outros na equipa, é certo) e garantindo também que a equipa recebia os pontos vitais para que se mantivesse no World Tour. Valverde regressou do castigo, e fê-lo numa equipa World Tour, graças ao Rui e outros ciclistas que como já disse a mantiveram com esse estatuto. Valverde, hoje retribuiu ao Rui, à equipa, e ao patrocinador ao descer do seu pedestal e vestindo a pele de um humilde gregário. O Rui saberá sem dúvida dar-lhe uma boa mão no Tour, e a equipa há-de apoiar o Rui mais vezes em objectivos pessoais dele no futuro. Outros ciclistas da equipa saberão que também eles terão respaldo, chegando o seu momento. Assim, vale a pena, e assim vamos tendo ténues lampejos de que ainda há gente de carácter neste mundo. São estas as razões, além do mais que evidente feito pessoal do Rui, que fazem desta, uma vitória enorme, bem maior do que sequer é discernível à primeira vista.
Agora Rui, repousa que bem mereces, e depois faz o teu trabalho como sabes no Tour. Depois do Tour? Porque não os Mundiais?