A questão do capacete é uma entre várias a que os ciclistas têm sido constantemente bombardeados desde que o CE sofreu alterações e os equiparou, de certa forma, aos automóveis. Depois deste assunto lá virão os seguros, o IUC, as matriculas, sei mais lá o quê!
Do ponto de vista da segurança é evidente que proteger um crânio de qualquer forma não pode ser uma coisa inútil. Ou assim parecia! Essa tendência começou no mundo do ciclismo profissional há coisa de duas décadas. A obrigatoriedade do uso de capacete na actividade desportiva muito diferente do que tornar obrigatório usar um capacete por simplesmente andar de bicicleta. É o mesmo que obrigar o automobilista a enfiar o capacete sempre que dá à chave no seu carro do dia-a-dia.
Um argumento popular na comunidade ciclista urbana, que discorda do uso obrigatório do capacete, é que ninguém usa um capacete na Holanda. Isto é verdade, os holandeses não vêem a necessidade do uso do capacete como indispensável para a sua segurança, e a maioria deles sobrevive sem o capacete. A sua cultura é muito diferente de muitos outros países onde andar de bicicleta perto dos carros pode ser interpretado como nada menos do que coisa de gente maluca. Também há quem chegue ao extremo argumentativo para provar que o uso de um capacete é prejudicial ao ciclista. Citam estudos e estatísticas que supostamente mostram haver um maior número de vítimas causadas por lesões que não foram protegidas pelo uso do capacete.
A classe médica vê o uso do capacete como obrigatório. Têm pelo seu lado a experiência em primeira mão na assistência médica a casos que resultaram ou podem resultar de um trauma na cabeça. Há automobilistas que entendem se um ciclista se recusa a usar um capacete é um inconsciente e um criminoso, mesmo que o real perigo advenha nomeadamente das suas decisões e atitudes ao volante.
Podemos debater os prós e os contras do uso do capacete por tempo indeterminado. Nenhum dos dois lados vai convencer o outro porque este debate não se baseia na lógica. Ele é baseado em convicções e preferências pessoais. Andar de bicicleta é conveniente, divertido, oferece muitos benefícios para um indivíduo e para a sociedade. Desencorajar o uso da bicicleta exigindo a todos a usar um capacete derrota todos os aspectos positivos do ciclismo. Nesse sentido é contra-produtivo. Talvez a única coisa com que possa concordar é a questão de tornar obrigatório o uso do capacete a crianças com menos de sete anos, embora considere um absurdo a multa conjecturada. Desde que o meu filho aprendeu a pedalar, a regra da casa era que ele usava sempre um capacete. Para não ficar atrás do exemplo paternal, ao contrário do ponto de vista maternal, desde que pedala diariamente não o usa.
Alguns defensores do uso do capacete não podem forçar os outros a usar um capacete. Embora as intenções sejam sinceras os seus argumentos para obrigar a utilização de um capacete são fracos. Eu posso alegremente recordar quando era jovem, quando andava de bicicleta de cabeça descoberta, os muitos trambolhões que dei: quando atropelei um cão, quando bati contra um carro mal estacionado ou quando me deu a macacoa e desmaiei enquanto pedalava. Em nenhuma das situações “rachei a mona”.
Reconheço que um capacete protege a cabeça e é um elemento de segurança. Não precisam de me bombardear com pseudo-evidências científicas que um capacete pode de facto proteger a cabeça. Em jeito de justificação,
eu uso sempre o capacete quando o considero apropriado, em pedaladas mais radicais ou em percursos de maior velocidade. Com esta alteração de regras, com mais pessoas a pedalar na cidade, com a adequação dos costumes a essa realidade, o debate sobre a obrigatoriedade do uso do capacete tem aquecido. O dilema sobre o uso do capacete pode, eventualmente, resolver-se com a tecnologia, evoluir e tornar mais conveniente a protecção da cabeça do ciclista, no entanto, quero ser poupado à necessidade de outros tomarem essa decisão por mim.
Eu tendo a favorecer a liberdade pessoal, sempre que possível.
A propósito o mapa mostra a realidade mundial sobre a questão do capacete:
a verde: não é obrigatório;
a vermelho: obrigatório