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As voltas do Fogueteiro

fogueteiro

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Ontem foi dia para tirar a barriga de misérias. Admito que estava com algum receio de me ir meter em problemas mas no final verifiquei que nunca nos esquecemos como se anda de bicicleta.

Tinha cumpromissos em Coimbra (cortejo académico) e combinei com a minha mulher encontramo-nos lá. Saí cedo de casa, com a temperatura um pouco fria, mas com o calor da ansiedade nem o senti.

Nove kms depois a primeira dificuldade do dia, sem antes me ter entristecido com um cenário macabro mesmo no meio da estrada. Após uma curva, mesmo no meio da estrada jaziam os corpos de dois animais apanhados por uma carro. Era aquilo que vulgarmente chamamos de saca-rabos, furões, doninhas etc. Fiquei com pena porque são menos dois bichos que deixaram de existir.
Mas como dizia, a primeira dificuldade: Após a barragem da Bouçã, tive que ultrapassar 2kms a 9% de inclinação média. Como ainda ia fresco a subida foi toda feita em crenques, e até sem grande dificuldade, também graças aos 10kgs que entretanto perdi.

Castanheira de Pêra era a próxima meta. A manhã ainda prendia as pessoas à cama, por isso o trânsito era reduzidíssimo, o que fazia desta vila uma espécie de vila fantasma.

Tirando a dificuldade que vos disse, até este ponto a estrada foi um carrossel, com aquelas ladeirazinhas que ao longe não parecem muito complicadas mas depois tornam-se irritantes. Até aqui todo o trajecto era conhecido.

Em Castanheira de Pêra, era minha intenção seguir pela estrada habitual, rumo à Lousã passando pela serra com o mesmo nome. A determinada alltura vi uma indicação a dizer: "Serra da Lousã" Pensei: "Não é por ali que conheço. Será que depois vai ligar à estrada habitual, lá mais adiante?"

Como nestas situações não costumo hesitar, "bora" lá perguntar a um sujeito que ia passar. A resposta dele foi afirmativa e "botei-me" à aventura. Foi pena o nevoeiro toldar o horizonte, porque eu ia nas minhas quintas. Paz completa, trânsito inexistente, inclinação na casa dos 5-6%, faziam um menu perfeito, ainda por cima na serra que eu mais aprecio, para pedalar, de todas as que já fiz até hoje.

Ia tão absorvido que nem sequer me lembrava que tinha que apanhar a tal estrada habitual, que teimava em não aparecer. Finalmente apareceu, já bem lá no topo, perto do cruzamento que dá para o Trevim (a Torre da serra da Lousã). Tinha agora uma longa descida até à Lousã que fiz com grande prazer. Ainda me cruzei com um grande grupo de BTTistas, ou não fosse esta serra a Meca do Btt e do downhill, em Portugal, segundo dizem os especialistas.

Lousã, coíncidiu com a primeira paragem e com o primeiro precalço: Um furo. Barriga retemperada e camara mudada lá segui eu para Vila Nova de Poiares, onde teria que fazer a opção do dia, dependendo da hora. Ou seguia logo para Coimbra, ou ia por Penacova, opção que eu mais queria. Fiquei feliz porque ao chegar ao ponto de decisão ia muito fresco, bastante adiantado em relação ao horário previsto e não foi dificil optar... Penacova.

Já tinha andado por estas bandas, de bicicleta, embora emsentido contrário, mas agora pude ver Penacova noutra prespectiva. Aquele casario plantado pela encosta abaixo, não é nada bonito. As casa estão sem gosto, e embora estejam inseridas numa ambiente natural muito bonito, não deixam de ser um "escarro" na paisagem. Simplesmente não se encaixam por serem tão feias. Enfim... só um aparte.

Finalmente entrei no troço final. Aquele troço de estrada sempre sobranceira ao Mondego, com o piso a condizer, é simplesmente lindíssima. Foi o concretizar dum plano que já algum tempo tinha, desde que lá tinha passado de carro, há uns anos atrás. .

Finalmente Coimbra. Faltava agora ter que subir para a parte alta da cidade, onde seria o ponto do Rendez-vous. Confesso que fiz estes 4 ou 5 kms bem devagar. Já numa de descontracção, mas sobretudo porque as forças já estava no ponto zero.

Cheguei satisfeitíssimo e com vontade de regressar pelo mesmo meio, mas os planos eram outros.

Kms percorridos: 113
Acumulado positivo: 1600 metros
Tempo gasto: 4:15
Média: 24.90kms/h
Inlinação média: 4%
 

fuel100

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Vejo que andaste num dos meus quintais habituais - A Lousã. Aqula descida de quase 20km nas encostas da serra, nesta altura do ano é simplesmente deslumbrante. Fizeste bem em ter ido pela marginal ao Mondego. Fiz essa ida e volta a Penacova no sábado de tarde e o Rio, com as chuvadas dos últimos dias estava simplesmente explenderoso e com a vegetação das encostas a condizer. É um percurso habitual das gentes de Coimbra.Ainda bem que gostaste.
 

fogueteiro

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Boas FUEL

de facto a Lousã tira-me do sério. Já a subi, e desci, por várias vezes e há sempre algo de novo.

Já agora uma questão que coloco a ti e ao pessoal da zona. Há outros caminhos dos que o habitual Lousã - Castanheira de Pêra. Ontem descobri o que já referênciei, mas será que existem outros? Pelo lado de Góis existe algum?
 

fuel100

New Member
Sim, há a subida a partir de Alvares. Apanhas a nº 2 na Sertã e, passando por Góis, vais sempre por ela até ao Mondego e na ponte da rebordosa desvias para Coimbra, como fizeste ontem.
 

fogueteiro

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O reencontro

Boas pessoal...

... tive que fazer um esforço para encontrar este tópico, por estar há tanto tempo parado. :(:(:(:( Mas como a vida não é feito somente de bicicletas, agora ando um pouco arredado destas andanças. Espero que a normalidade volte e as oportunidades sejam mais numerosas. Mas por agora tenho que aproveitar a ocasiões... e essas não escapam.

Foi o que aconteceu no Domingo dia 9 de Julho. Ia com planos de fazer um treino mais longo, numa de ir preparando as pernas para um passeio longo que estava planeado.

Após 10kms cruzei-me com 2 colegas. Logicamente que parei. Uns minutos à conversa e constatei que estava a falar com um ilustre desconhecido, do qual já tinha ouvido falar pelas longas distâncias que faz. Desde que vim morar para estas bandas a procura de colegas de estrada tinha-se mostrado infrutífera, embora o nome "Luís Cabaço" andasse no ar.

Era ele. Ia com mais um colega. Despedi-me deles, para mais uns metros à frente decidir dar meia volta e acompanhá-los. E em boa hora o fiz. Gente porreiraça, e amistosa. Gostei muito, e tenciono repetir.

Afinal eles "andem aí". Gente do meu estilo. Poucas paragens, ritmo o mais certo possível, com andamentos parecidos com os meus, o que me fez sentir confortável, por nem ser um peso, nem sentir que os outros me impediam o andamento.

Foi uma voltinha com 95 kms e 1500 de acumulado e média a rondar os 24 kms/h
 

fogueteiro

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Na rota da petinga, tomates, poluição e confusão...

Se tinha grandes planos para esta semana dou-me por feliz por ter feito somente metade dos kms. Havia um plano de família que nos levaria até ao Algarve. Eu iria de bicicleta e o resto do pessoal de carro. Seriam 400 kms que ficaram adiados até Agosto.

Mas logo pensamos numa tarefa que teriamos que ir fazer perto de Sintra, e assim reformulamos todos os planos. Sem pestanejar fui para o Gmaps e elaborei o percurso, até ao Estoril, onde tenho alojamento de graça.

Saí de casa pelas 8 da manhã, porque sabia que o percurso é maioritáriamente plano o que me proporcionaria velocidades mais elevadas. Depressa a zona do pinhal ficou para trás, com as únicas dificuldades maiores do dia. A partir de Tomar o terreno torna-se muito mais plano. É caso para eu dizer: Diminui a dificuldade, aumenta a pasmaceira. Mas eu sabia o que me esperava.

No Entroncamento, tive o percalço do dia. A nossa ida a Sintra estava dependente de algo que teimava não se decidir, e esta cidade seria o ponto mais a sul, que eu poderia ir sem saber certezas. Depois ou vinha para trás pelo mesmo caminho ou então voltava para casa mas por Abrantes. Confesso que nem uma nem outra opção me satisfaziam. Eu queria ir para Lisboa.

Depois de hora e meia à espera saiu a decisão: Destino... Lisboa.

Já frio, tive que recomeçar o que me custou um pouco, mas depressa ganhei o ritmo novamente. Passei a Golegã e depois atravessei a ponte sobre o Tejo, e como já era hora de comer, decidi parar num café.

Ementa: Uma sande com 4 ou 5 petingas (carapau pequeno) fritas e um prato de sopa à Ribatejana com feijão e couve. Consolei-me!!!!

Refeito, lá segui eu pelas lezírias ultra planas do Ribatejo. Confesso que a pasmaceira é desanimadora. Nem uma subidinha... nem uma descidinha. Sempre plano, plano, plano... Realmente não faz o meu género, mas era o que tinha. E para grandes males grandes remédios. Ia tudo controlado. O ritmo era certo, na casa dos 30 - 34 kms/hora, as retas não me traziam cuidados para curvar mais ou menos, por isso para não adormecer tinha que fazer alguma coisa. E assim foi. A inconsicência de teenager voltou, e pensava eu que tinha morrido.

Olhei para a frente e vi uma rotunda. Olhei para trás e vi um camião a aproximar-se. Rápidamente elaborei os meu planos. Meti-me no meio da estrada numa de abrandar o ritmo do gigante e entrei na rotunda à sua frente e ele bem colado a mim. Mal fizemos a rotunda deixei-o passar e colei-me à sua traseira. Digo-vos que os próximos 4 kms foram alucinantes. Ele começou a acelerar e eu bem colado a determinada altura olhei para o conta kms e vi que íamos a 81 kms! Nem a descer a serra da estrela atingi esta velocidade. Mas ele continuava a ganhar velocidade e não mais consegui acompanhá-lo. Fui inconsciente, eu sei, mas se não fosse assim eu teria adormecido;);););););););)

Continuei na minha senda, com um vento lateral e frontal pela frente, que me dificultava a vida e a pedalada. Mais uma vez veio a pasmaceira. Que fazer agora? Embora o trânsito fosse muito intenso com muitos camiões, eu tinha que arranjar motivo para me distrair. Entrei naquela pergunta que se costuma fazer quando vamos de carro: "Que cultura é aquela naquele campo?" Passei por milheirais imensos, arrozais a perdei de vista quando finalmente passei por um campo com uma cultura que à primeira vista não descobri o que era. Com um olhar mais atento, descobri que eram tomates. Para um devorador compulsivo destes legumes/frutas (?) era como entrar no paraíso. Parei e enchi todos os bolsos e cantos livres, para depois ir a comê-los. Deliciei-me.

Porto Alto, e viragem à esquerda para entrar na reta de 10 kms com um transito intenso, e um vento de frente. Foram 10 kms difíceis aliados aos 150 kms que já levava nas pernas, que terminaram com a grande dificuldade das ultimas horas: A subida da ponte de Vila Franca de Xira.

A seguir a esta ponte entrei então noutra dimensão: A da confusão e da poluíção. Mas não tinha alternativa, mantive o ritmo elevado, mas menos devido ao intenso trânsito. A passagem por Lisboa não deixou saudades. Detesto cidades, sejam elas as que forem. Finalmente vejo-me na marginal de Cascais e se pensava que o trânsito iria abrandar enganei-me redondamente. Vieram as saudades das ruas desertas da Beira Baixa e do Gerês, Freita e da ponte do silêncio. Finalmente cheguei ao Estoril. Sentia-me melhor com a façanha feita em cima da minha queria Bicicleta Heroica (BH) do que muitos queques de Cascais com os seus bólides Italianos e Alemães a poluirem ainda mais o ar.

Contas finais:

222 kms percoridos

29,50 kms/h de média

7:47 de duração

1012 metros de acumulado positivo.

A repetir? Terei que pensar duas vezes.

Aos grandes apreciadores das minhas fotos de altíssima qualidade;););););););););););) peço desculpa de não as colocar mas a telemóvel avariou-se a agora o que tenho não tem essas moderníces. :D:D:D:D:D:D:D:D:D:D:D
 

pantani

Member
Boas Zé!
Mesmo sem fotos, fiquei deliciado com o que li e por saber que continuas a pedalar com prazer.

Grande abraço
Pereira
 

osicran

New Member
Ainda ontem falei em ti com o MRM e o M1962 quando passei no local onde nos encontrámos no ano passado no percurso do Caramulo. Já estranhava tanto silêncio, mas aqueles :D tranquilizaram-me. Há mais, mas tu também és daqueles gajos cuja ausência pesa...
 

osicran

New Member
Esse abrigo atrás dos camiões mete-me um medo danado... Um dos meus companheiros habituais de pedaladas e antigo ciclista a sério, sempre que tem oportunidade, lá vai ele à boleia do túnel de vento para minha grande preocupação...:mad:

Há uns tempos, depois de ter visto um outro meu amigo e ex-grande ciclista profissional, um dos poucos portugueses a vencer uma etapa da Volta à França, colar-se à traseira de um camião a uma velocidade que me pareceu completamente louca, perguntei-lhe como é que ele se defendia se, de repente, o camião travasse a fundo.
"Ora, ponho a mão à frente, na carroceria, e aguento!...", foi o que ele me respondeu a rir...

Não me convenceu, claro!...:mad:
 

pratoni

Well-Known Member
Bela voltinha e descrição a condizer.

Mesmo sem fotos, com essa descrição, foi fácil imaginar tudo na cabeça com imagens bem realistas... :)
 

jnap

New Member
O pessoal já tinha saudades das tuas voltas.
E para quem tem estado quase parado, sacar uma volta com estas distâncias e com essa média... As pernas continuam lá!
 

fogueteiro

Active Member
Quase espanhol.

Boas pessoal,

Ontem foi dia de pedalar no Sotavento Algarvio. Zona ainda, por mim, não pedalada. Queria fugir ao máximo da “odiosa” N125, mas os primeiros 20 kms foram ultrapassados exactamente nesta via. Ainda na cidade de Vila Real de St. António, pude integrar-me num grupo de colegas, na sua maioria mais velhos que eu. Não sei se foi por esse motivo ou não, mas o facto é que me senti sempre a mais. Durante o tempo que andamos juntos, cerca de 1 hora, não houve um deles que se dignasse dizer-me fosse o que fosse, quanto mais não fosse: “Desaparece!!” :mad::mad:Mas também como o percurso não me ia a entusiasmar muito, mal pude virei em direção à serra Algarvia e eles continuaram o seu passeio.


O meu objectivo era a barragem de Odeleite, mas como tinha ido demasiado à frente, com o tal grupo, tive que alterar os planos. E até nem foi mau de todo porque tinha horas e compromissos a cumprir, e aproveitei para fazer um passeio mais rolante e a um ritmo mais acelerado.

Contabilidade final:
84 kms
Tempo gasto: 2:56
29kms de média
Acumulado positivo: 501
 

fogueteiro

Active Member
No inferno a beber chá, com bolachinhas....

Boas pessoal do pedal…

Embora este ano o meu “curriculum” não esteja a ser muito ampliado, lá vou arranjando tempo e oportunidades para pedalar. As voltinhas mais pequenas, as tais de Domingo, vão entrando na normalidade, ajudado pelo facto de ter encontrado dois colegas porreiraços, cá pelo burgo.

Em Julho, inserido numa actividade de família, tinha planeado uma descida aos algarves, mas à última foi tudo cancelado, e tive que me contentar com uma ida à capital, como já relatei por cá. Mas existia outra possibilidade. Tinha um convite de em Agosto ir fazer parte de um encontro nacional de jovens, mais concretamente em V. Real de Stº António, e esta possibilidade eu não queria deixar fugir. Dois dias antes recebi, parcialmente, um balde de água fria, com uma notícia que me obrigava a alterar tudo e quase boicotar o meu desejo. Mas como quem quer a bolota tem que “atrepar”, logo pensei numa solução, que me iria levar exctamente à parte oposta, até casa de um familiar: Aljezur.

Eram exactamente 3h45m da matina quando comecei a pedalar. Confesso que ia um pouco apreensivo, mas o prazer que me dá este vício logo fez com que entrasse em velocidade de cruzeiro. A noite ainda escura não me afligiu nada, bem pelo contrario, ajudado pela excelente temperatura, e por me acompanhar um céu estrelado digno de ser visto.

Nos primeiros 10kms a estrela polar, e a sua vizinha ursa maior, insistiam em “olhar” para mim, porque se apresentava pelo meu lado esquerdo, como que a tentar incentivar-me a seguir para norte… mas desta vez o meu destino era o sul.
Sertã ficou para trás para entretanto começar a ver as luzes de Vila de Rei, tendo pelo meio umas subidinhas que ajudaram a animar ainda mais.

Os primeiros sinais do amanhecer começaram a notar-se, quando eu ia a passar ao lado da Vila do Sardoal, e quando cheguei a Abrantes já a luz me permitia ver bem, no horizonte, as chaminés de arrefecimento da central termo-eléctrica do Pêgo. Nesta altura, confesso, que ia um pouco desanimado. Sentia-me desconfortável com a transpiração, as pernas doíam como se já tivessem feito 500kms (ia com apenas 65), o pescoço ia a doer também. Foi nesta altura que eu decidi fazer a primeira paragem, embora não precisasse. Aproveitei para “descarregar” e abastecer o corpo com alimento e fazer a contabilidade dos kms percorridos. Contabilidade feita, o balanço incentivou-me a seguir em frente… não era de esperar outra coisa.

Primeira surpresa do dia: À saída de Abrantes existem uns campos imensos de milho, e num deles pude ver algo que nunca tinha visto até agora, em liberdade: Uma vara de javalis. Mais à frente outra surpresa: Uma grande ave de rapina, empoleirada em cima de um poste, mesmo ali a uns metros… e não fugiu!!!

Ponte de Sôr estava já no horizonte, quando o calor já prometia, cruzou-se comigo uma brigada de trânsito… ia eu a cantar com todos os pulmões. Não pude deixar de rir quando vejo o condutor a olhar pelo retrovisor. ;);););););););););););););)

Após esta localidade entrei naquela que seria a maior recta do dia, em direcção à barragem de Montargil. Antes pude constatar as excelentes condições do aeródromo e assim fazer um pouco de futurologia: “Um dia destes a Ryanair vai começar a aproveitar este aeroporto para servir esta zona e a de Lisboa….” Pensamentos de quem não tinha mais em que pensar.
Montargil, foi o lugar escolhido para nova paragem mais demorada. O calor já se fazia sentir bem. Ia a bom ritmo, e o ânimo em alta. Comecei a constatar que afinal estava enganado quando pensava no Alentejo. Nunca tinha andado de bicicleta por estas bandas, e tinha uma ideia diferente. Pensava que para Além Tejo o terreno tornava-se praticamente plano, mas de facto assim não é. É certo que não se encontram aquelas subidas das Beiras, ou mesmo de outros lugares, mas aqueles montes partem as pernas. Não por serem muito inclinados nem extensos mas pela quantidade. São constantes e a tal planura tão típica do Alentejo, quase não passou por mim. Só depois de Alcáçovas é que o terreno se tornou mais plano.
Bom, lá continuei rumo a sul. O sol tornava-se abrasador, e em Montemor o meu contaKM marcava já 38 graus. Eram cerca das 11 horas. Nesta localidade parei para me abastecer melhor. Uma sopa e um sumo bem fresquinho tornaram a animar a vontade.


Lamento a forma como fui atendido pelo dono. Antipático até dizer chega… deveria estar nos dias difíceis.:mad::mad::mad: À saída de Montemor, passa por mim um daqueles tratores agrícolas, enormes talvez com um 300000000000 cv. Mesmo a jeito!!!!! Colei-me na sua traseira e lá fui eu a 40kms/h durante uns bons kms , e sem esforço.

CUBA…….. sem praia!!!!! Que calor fazia!!! O meu “amigo” marcava 41 graus!!!! A água gelada que ia comprando e colocava nos bidões parecia chá ao final de 15 minutos… sem exagero. A minha preocupação era a hidratação, porque me ia alimentando regularmente, com uma bolachinhas que levava nos bolsos. Parecia que ia no deserto onde a preocupação maior é encontrar água. Pedalei durante horas com a temperatura nos 40 – 43 graus. Estava no inferno… e como estava a ser enorme o nosso Alentejo. Amigos alentejanos, serei vosso defensor sempre que estiver com alguém que vos critique de trabalharem pouco… Agora eu compreendo.

Alcáçovas, e a surpresa do dia. Fui a um café restaurante, e a intenção era parar para me alimentar a sério. Dirigi-me ao balcão e perguntei ao homenzinho: “O que tem a saír?” Resposta: “Teem-me a mim!!! Estou farto de estar aqui!!! A minha vontade era saír mesmo daqui!!!” Pensei: “estes alentejanos não gostam mesmo dos “galegos” (nome que dão aos visitantes, segundo depois vim a saber)”. Estava a comer a minha sande quando acontece a surpresa do dia. Olhei, casualmente para uma cliente e logo reconheci a sua cara, para depois confirmar ao ver a cara do marido. Eram meus vizinhos e amigos, que há uns anos deixaram V.N.Gaia e vieram viver para o interior alentejano . Uma alegre cavaqueira se seguiu e na despedida ele disse-me uma coisa que confirmei: “No Torrão é que deve estar quente!!” E como estava quente. Felizmente existe uma fonte de água com um reservatório, onde mergulhei a cabeça com capacete e depois os pés com sapatos e meias. Foram momentos de algum alívio.

E o calor não dava tréguas. Era, definitivamente, o meu maior inimigo. Confesso que tive que parar um par de vezes, aproveitando alguma sombra que existisse à beira da estrada. Água, água, água!!!! Era o meu pensamento constante. Estivesse quente, ou fria não importava.

O ritmo tinha baixado muito, primeiro devido ao calor “insurdecedor”, e depois porque o terreno em constante carrossel começava a trazer algum cansaço. O calor era tanto que nada se mexia, a não ser um maluco em cima de uma bicicleta. A minha esposa que me perseguia com o carro estava a aproximar-se, e eu queria chegar o mais longe possível antes que ela me apanhasse, mas de facto a energia começava a faltar.

Ferreira do Alentejo, foi o meu oásis. No centro da vila, na praça onde esta á seg. social, existe um chafariz decorativo, mas eu não quis saber de nada. Sentei-me na borda e mais uma banhoca que muito bem me soube. Comecei a constatar que o meu sonho não ia ser realizado. Olhei para a minha condição física, para o relógio e depois fiz umas contas rápidas e depressa verifiquei que Algezur ainda ficava muito longe. Coloquei então novo objectivo: Aljustrel ou 300kms.

Antes de Aljustrel fui “apanhado” pela minha esposa, mas numa rápida inspecção decidi atingir os 300 kms. Em Aljustrel existem umas paredes demolidoras (ou era eu que já ia nas últimas?) que foram ultrapassadas a custo, e segui viagem em direcção a Odemira, para 10kms à frente ter encostado definitivamente.

Fiquei com um sentimento estranho: Alegria por mais um objectivo atingido, mas um amargo de boca por não ter chegado ao Algarve. Mas não se iludam: I’ll be back!!

Deu para mudar a minha opinião dum tal Alentejo que de carro parece plano. Deu também para aprender a lição que o mudar, a meio do passeio, o trajecto não é vergonha para ninguém. Se em Montemor tivesse ido por Alcácer, Grândola, se calhar até teria conseguido. É mais plano, mais fresco e teria o vento a favor. Fica para a próxima.

Contabilidade:
300kms
Cerca de 25kms/h de média
2100 metros de acumulado positivo
12 litros de água (acreditem ou não)
 

indy

Active Member
Não sei como é que há tipos dispostos a passar tantas horas em cima da bicicleta ;)

PS: desculpa não me mostrar mais impressionado com o teu feito mas depois de logo nos primeiros parágrafos ter lido que alguém se levantou às 3h00 da manhã para pedalar tudo o resto deixou de me surpreender :D:D
 

fmm

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Boas Fogueteiro

Bem hajas, por mais uma aventura.
Da zona de Vila de Rei até Montargil, é zona bastante conhecida minha.
Calculo que a zona que falas dos javalis é numa parte a seguir a Arrifana onde existe muito milho, tanto de um lado como de outro.
Quanto ao percurso todo propriamente dito, também o conheço todo de viagens de carro hehehehehe.
Só de imaginar a braza por esse Alentejo fora, bem até dá calafrios na espinha.
Mais uma vez parabéns pela aventura, e de facto quem imagina o Alentejo, plano desengane-se (isto para não falar em aventuras de btt) aí ainda se nota mais.

Abraço e boas pedaladas.

Filipe
 

osicran

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Boas Fogueteiro

Grande aventura e grande narrativa! Como também já por aqui algures ficou escrito, também eu faço anualmente a "peregrinação" em duas rodas até ao Algarve, só que a minha é bem mais "soft" na quilometragem e na dose de sacrifício, já que alia o prazer da bicicleta a outros prazeres mais veniais servidos à mesa...:) 300 quilómetros debaixo do sol alentejano na mesma etapa é obra! E sinal de grande vitalidade física e mental.
 

osicran

New Member
Quando fui ao Algarve de bicicleta pela primeira vez também tive essa certeza de que afinal, contra a ideia generalizada, as estradas alentejanas não são tão planas e tão fáceis como pensávamos... Aquele sobe e desce quase constante, mesmo que suave, não é a mesma coisa que um verdadeiro plano...:p E depois com a fornalha em cima de nós...:p

De Abrantes até Aljustrel fiz exactamente o mesmo percurso há dois anos. Tiveste azar em Montemor-o-Novo. Acontece, é uma questão de sorte ou de azar... Eu dormi lá e encontrei um restaurante com um cardápio e um serviço do melhor que tenho encontrado...

E o paralelo na zona do Torrão?... A estrada já está asfaltada antes de chegar à vila? Nessa altura em que lá passei estava em obras, eram cerca de quatro quilómetros de uma mistura de "tuvenam" e cascalho, foi uma boa gincana a escolher caminho...:mad:

Pela minha experiência pessoal, a travessia do Alentejo, não obstante algum desgaste pelas altas temperaturas, é sempre uma jornada que vale a pena. Pelo menos para quem previlegia a tranquilidade, os horizontes largos e os silêncios reconfortantes. Eu gosto sempre, seja qual for o itinerário escolhido para a viagem... E fiquei com a sensação de que, mesmo sendo homem de planos mais inclinados, também gostaste. Estou certo?...:rolleyes:
 
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