4º Audace 2014 - Massamá - Crónica do meu terceiro Audace
Olá a todos. Este foi o meu terceiro
Audace e demorei mais tempo a escrever esta crónica porque fiquei realmente lixado com "F" grande com este evento. Não teve nada a ver com a organização, nem com o percurso, nem com a paisagem, muito menos com algum dos ciclistas que percorreram este malfadado Audace. Todos estiveram impecáveis. Foi tão simplesmente... o vento.
Mas já lá vamos. Este era um Audace que eu queria mesmo fazer. Vivi alguns anos em Massamá, fiz aquele caminho até à marginal muitas vezes para ir para o trabalho, e o percurso junto ao Tejo até Alverca era algo que já tinha feito algumas vezes. O tempo previa um dia de sol embora talvez não tão soalheiro quanto a semana anterior em Setúbal. Quando vi o percurso, ainda tive a ilusão que se conseguisse acompanhar o pelotão até à marginal, conseguiria depois fazer o percurso até Alverca com maior companhia. Mas foi pura ilusão. Mesmo com uma média de 28km/h para os primeiros 5 kms não suficiente para acompanhar o grosso de ciclistas. Mesmo assim, ainda foi possível ir encontrando alguém aqui e ali.
Até que chegando a Algés avisto dois ou três ciclistas que iam a pedalar um pouco mais à frente do que eu, mas quase ao mesmo ritmo. Faço um esforço para os apanhar e tinha assim a companhia até Alverca do Vítor e o António. Pequena paragem em Sta. Apolónia que o Vítor tinha que regar as flores, e depois era sempre em frente. Até que a chegarmos a Sta. Iria passa um conjunto de ciclistas por nós que só podia ser patrocinado pela RedBull tal eram as asas que levavam! Nós íamos a uns 30km/h e a forma como eles passaram por nós mal deu tempo para dizer bom dia. Talvez alguma equipa semiprofissional que por ali treinava porque um deles tinha uma daquelas bicicletas de triatlo.
Antes de me fazer à subida de Alverca, e como já tinha cerca de 2 horas de percurso, decido fazer uma breve paragem, experimentar aquele shot de magnésio que o meu amigo Ricardo me tinha emprestado, a ver se não voltava a ter as cãibras dos últimos Audaces (e resultou!). Mais um banana e um pouco da bebida isotónica e lá segui caminho. Sabia que esta ia ser uma valente subida, em comparação com aquilo que era o meu histórico. Mas também sabia que a meio havia um posto de controlo que daria para retemperar forças. Embora longa, acabei por chegar ao PC1 com maior facilidade que inicialmente previsto. Voltava a ver os meus dois companheiros de viagem que tinham descolado em Alverca e preparavam-se agora para seguir caminho.
Aqui surge a primeira surpresa. Não tenho grandes ilusões que dada a minha baixa forma física, aliada à pouca experiência de bicicleta, estou destinado, por agora, aos primeiros lugares... a contar do fim. Só que estava eu a saborear um gomo de laranja e quando vejo chegar um ciclista (já depois de eu ter chegado). O primeiro pensamento foi que a minha prova estava a correr mesmo bem pois ainda havia alguém atrás de mim. Mas havia aqui algo que não batia bem, porque este ciclista até parecia estar em boa forma física. Até que ele desvendou o mistério: tinha feito o Radonneur Midnight Ride 200kms, que tinha saído à meia-noite de Vila Franca de Xira, até para lá de Montemor-o-Novo e voltado. Pegou no carro e foi para Massamá fazer o Audace, pelo que já levava mais de 250km nas pernas e preparava-se para acabar o dia com uns 320km, tipo Lisboa-Porto num só dia. Parabéns pela coragem e pela forma física!
Mais uns minutos e mais dois ciclistas. A sério, isto hoje estava a correr-me mesmo bem. Ah, afinal, nem por isso. Um dos ciclistas já tinha tido três furos só até ao PC1. Irra, isso é que é azar. Bem, não havia tempo a perder até porque eu sabia que depois do PC1 vinha um subida bem a pique, e assim foi. Aquelas duas curvas mesmo fortes, mas fi-las, e depois era a descer pelo que é só pedalar.
E aqui começavam as más notícias: o vento. Como diz o povo, eu sei que para quem não sabe dançar até a sala está torta, e que ainda sou meio-maçarico em cima da bicicleta, mas descer a 30-40km/h com vento lateral que me abana por todo o lado e só penso onde vou fazer a barba no alcatrão, não ajuda, pelo que as descidas foram feitas quase sempre a travar, e bem. Comecei a ficar preocupado, porque era nas descidas que eu recuperava o tempo das subidas lentas. Mas não podia arriscar uma queda e esfregar a cara no alcatrão. Chego a Bucelas já com algum diálogo com o S. Pedro para parar a ***** do vento que não preciso de "ajudas" dessas. Até que vem aquela subida para Cabeço de Montachique, que eu não conhecia, mas que a imagem que tinha visto na véspera no Google Maps já indicava uma inclinação acentuada. Aquele início é mesmo, mesmo inclinado... Continuo a subir e parece que a subida nunca mais termina. Embora a paisagem cheia de verde seja bastante agradável, fica bastante mais agradável quando se vem de carro. De bicicleta é dura a valer. Até que vejo aquela curva à direita, que mais parece uma parede, mas lá a fiz sem desmontar. Embora lá que a seguir é sempre a descer...
Pois era, mas o S. Pedro não queria nada comigo e o vento parecia ainda mais forte. Vejo a bicicleta abanar e a mudar-me de rota para a berma. Tenho de travar ou ainda me espeto. Passo junto ao campo de painéis solares da Martifer e tão lixado que estava que penso que eles deviam era ter montado umas hélices de energia eólica! E o vento continuava. Chego a uma pequena terreola que não me lembro o nome e desmonto. Já não aguentava mais vento. Penso em desistir. Sabia que ainda era um caloiro em Audaces, mas nem uma hora de chuva da Moita, nem a subida da Arrábida em Setúbal, tinha sido tão desgastantes como aquele vento que teimava em me abanar por todos os lados. Faço uns 50 metros a pé enquanto como mais uma banana e tento convencer-me a não desistir. Até porque as duas subidas mais fortes já tinham passado.
Sigo em frente. Depois há coisas que detesto ver na estrada. Por exemplo, quando assinalam que em vez de uma, há duas vias de trânsito. Pronto, já sei que vem aí a subida de Negrais. Bem, depois vem o PC2 e sempre descanso um pouco. Mas não deu, tive de parar a meio da subida que o vento teimava em atirar-me para o chão. Começava a ficar preocupado: pela primeira vez num Audace, estava em perigo de falhar o tempo de passagem nos postos de controlo. Chego ao PC2 apenas 20 minutos antes deste fechar. Olho para o lado e vejo um restaurante a vender leitão e hesito seriamente se devo seguir a prova, ou ficar-me pelo leitão. Opto, erradamente, pela primeira. Dizem-me no PC2 que iria apanhar vento apenas nos próximos 5kms porque depois, assim que virasse, deixava de ter vento. Foram simpáticos...
Até que mais à frente, começo a suspeitar que o GPS me tinha pregado mais uma partida. A estrada que eu ia, acabava na entrada da IC30. Vejo a entrada para norte que diz que as bicicletas não podem circular. Paro. Vejo a carta da prova, revejo o GPS. Estou lixado, só me faltava esta. Decido seguir, até que me apercebo que no sentido sul, as bicicletas poderiam andar. Embora lá. Mais uma vez o vento teimava em lixar-me o juízo com "F" bem grande. Uma das vezes já na e.n. 250 atira-me para aí um meio-metro para o lado esquerdo quando vai a passar um carro, por sorte não levei com o espelho lateral no braço. Estou cansado, o vento não me deixa ir mais depressa, olho para o relógio e vejo que corro o risco de não chegar a tempo e estou tão farto daquele vento que só me apetece ligar para a organização para me vir buscar. Vou desistir em protesto!
Olho para o GPS, faltam uns 14kms, que ele me diz que faço em 40 minutos e faltam 50 minutos para acabar a prova, tinha 10 minutos de folga. Apenas queria que o vento parasse para pedalar à vontade e aproveitar as descidas, mas já tinha perdido a esperança no S. Pedro. Chego a Belas e levo uns 6 ou 7 minutos de folga. Pedalo o quanto posso, até à rotunda junto à 2Cycling. Já sabia que não ia fazer aquela subida que era demasiado ingrime para as minhas pernas depois de 115 kms, ainda hesito a dar a volta, mas opto por desmontar e fazer pé. Entro na 2Cycling, entrego a carta de prova, olho para o relógio e vejo 15:48. Consegui chegar a tempo por 2 ou 3 minutos. Olho para trás, penso no percurso que fiz e no que me custou, sobretudo pelo vento, e penso que tão cedo não volto aos Audaces. Ou há bom tempo, sem vento, ou a minha fraca forma física e pouca experiência não me permitem desfrutar destes desafios com prazer. O vento tirou-me todo o prazer de ter feito este Audace, que tinha tudo para ter sido uma experiência pessoal muito boa, e só me deixa a satisfação de não ter desistido. Não sei se chega.
No final de 2013 defini três objectivos para 2014, em termos de prática de bicicleta: 1) Fazer 3 desafios Audaces; 2) Percorrer 3.000km ao longo do ano; 3) Fazer o Tróia-Sagres no final do ano. No Domingo, completei o primeiro objectivo. Tenho pouco mais de 500kms nos primeiros dois meses, pelo que, se tudo correr bem, e manter este ritmo, atingirei o meu segundo objectivo. Dado que ainda faltam 18 Audaces este ano, talvez estabeleça um novo objectivo de fazer mais 2 ou 3 Audaces este ano, mas tem de passar algum tempo até esquecer este vento de Domingo.
Obrigado, Luís